Um grupo de 26 corredores vai transformar a tradicional Corrida de São Silvestre, no dia 31 de dezembro, em uma verdadeira celebração da cultura popular brasileira. Eles percorrerão juntos os 15 km do percurso vestindo uma única e impressionante fantasia que representa a bernunça, uma das principais criaturas do folclore de Florianópolis, em Santa Catarina.
Um dragão folclórico nas ruas de São Paulo
A iniciativa tem como objetivo principal levar um símbolo da cultura catarinense para a maior e mais tradicional prova de rua do país. A bernunça, uma figura que se assemelha a um dragão ou jacaré, é parte integrante das apresentações do Boi de Mamão, brincadeira reconhecida como patrimônio imaterial da capital catarinense.
Para garantir que a fantasia se destaque entre os milhares de participantes, o material escolhido foi um tecido verde-fluorescente, cor que identifica o grupo de corrida idealizado por Ramon Dambroz, líder do projeto. O desafio logístico, no entanto, é grande: manter 26 pessoas sincronizadas dentro de uma única estrutura ao longo de todo o trajeto.
Estratégia e sincronia para honrar a tradição
A prioridade absoluta do grupo não será bater recordes de pace (ritmo médio por quilômetro), mas sim manter a união e a segurança de todos. A estratégia para a largada, que reúne cerca de 55 mil pessoas, foi minuciosamente planejada.
"A largada é muito específica. Baseado nisso, a gente vai botar o pessoal alinhado em fila indiana, devagarzinho. Nos primeiros quilômetros vai ser mais devagar, mas depois a gente consegue correr de maneira natural", explicou Ramon Dambroz. O objetivo é evitar tropeços e garantir que a bernunça folclórica complete seu trajeto com sucesso.
A bernunça e o Boi de Mamão: entenda a tradição
A bernunça é uma figura central no folclore da Ilha de Santa Catarina. No contexto do Boi de Mamão, ela atua como uma espécie de bicho-papão, que "engole" as crianças da plateia durante a apresentação. Após serem "engolidas", as crianças passam a fazer parte do corpo da criatura, em uma brincadeira que mistura susto e diversão.
A origem do personagem é registrada no "Dicionário do Folclore Brasileiro", do renomado pesquisador Câmara Cascudo. A tradição oral conta que a figura teria surgido a partir de uma história envolvendo um menino e um boneco monstruoso, que assustou sua avó.
Mais do que uma simples participação esportiva, a ação dos 26 corredores na São Silvestre é um ato de resistência cultural. É a valorização de uma manifestação popular que, através do esporte, ganha visibilidade nacional, demonstrando a riqueza e a diversidade das tradições que formam a identidade brasileira.