
Não é todo dia que a gente vê um espetáculo capaz de transformar algo tão natural — e ainda tão cercado de silêncio — em arte pura. Pois é exatamente isso que ‘Bendito Sangue’ faz, com uma delicadeza que corta como navalha. A peça, que já rodou meio mundo (ou pelo menos boa parte do interior do Rio), tá causando — no bom sentido.
De repente, um tema que muitos ainda tratam como segredo de banheiro vira poesia no palco. E olha que não é só discurso bonito: a montagem mistura teatro físico, música ao vivo e até projeções visuais pra falar sobre ciclos, dores e aqueles dias que toda mulher conhece (mas que ninguém comenta no almoço de domingo).
Mais que um espetáculo, uma conversa necessária
Quem já assistiu garante — a coisa é forte. "Parece que finalmente alguém tá dizendo em voz alta o que a gente sempre sentiu", comentou uma espectadora em Petrópolis, onde a peça lotou duas sessões seguidas. E não é pra menos: entre cenas que alternam entre o lírico e o cru, o espetáculo escancara desde os constrangimentos da adolescência até a solidão de lidar com cólicas debaixo do edredom.
O elenco, todo feminino, parece ter sido costurado pra isso. Cada gesto, cada pausa, cada olhar — tudo conspira pra criar aquela intimidade que só rola entre quem realmente entende do assunto. E o público? Ah, o público sai diferente. Homens incluídos. "Nunca tinha parado pra pensar no tanto que minha esposa não fala", admitiu um senhor de Nova Friburgo, depois da sessão.
Rodando o interior com uma mala de absorventes e histórias
Agora em julho, a trupe tá fazendo aquele roteiro clássico da Região Serrana: Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo. E em cada cidade, o mesmo ritual: plateia meio hesitante no começo, silêncio absoluto no meio, e no final — ah, no final sempre tem aquela conversa que vira terapia coletiva. Algumas prefeituras até abraçaram a ideia, incluindo apresentações em escolas públicas. (Quem diria, hein? Educação menstrual virando política pública!)
Pra completar, depois de cada sessão rola uma oficina — porque sim, ainda tem gente que acredita que mulher não pode lavar o cabelo menstruada. E enquanto isso não mudar, trabalhos como o do grupo Ciclos Cênicos (responsável pela produção) seguem mais que necessários. Afinal, como diz uma das atrizes: "Não dá pra romantizar, mas também não dá pra continuar tratando como doença".
Quer saber onde pegar a próxima sessão? Tá rolando uma turnê relâmpago até agosto — e pelo jeito, essa conversa tá longe de acabar. Como bem resumiu uma adolescente de 15 anos depois da peça: "Agora eu sei que não tô sozinha". E não tá mesmo.