
Não era só o termômetro que marcava temperaturas baixíssimas nesta quinta-feira em Nova Iguaçu. O coração de quem passava pelo centro da cidade, porém, esquentou ao ver a cena: dezenas de voluntários distribuindo casacos, cobertores e um pouco de calor humano pra quem mais precisava.
"A gente vê tanta notícia triste por aí que quando aparece uma luz no fim do túnel, dá até vontade de abraçar o mundo", contou Maria das Graças, de 62 anos, enquanto ajustava um casacão vermelho nas costas de um senhor que mal conseguia falar de tanto tremer.
Frio que corta, gesto que aquece
Com a sensação térmica batendo nos 5°C — algo raro pra região —, o grupo "Mãos que Aquecem" saiu antes do amanhecer pelas ruas da Baixada Fluminense. Nem a garoa fina que caía desanimou os 30 voluntários, que distribuíram:
- 120 casacos de lã
- 85 cobertores
- 200 pares de meias (a maioria doada por vovós da região)
- Termos com chocolate quente — esse último item, diga-se, fez mais sucesso que show de pagode
"Tá vendo esse senhor ali?", perguntou João Pedro, estudante de enfermagem que coordenava a ação, apontando pra um homem enrolado num edredom cor-de-rosa. "Ele tava dormindo em cima de papelão molhado. Agora tá com roupa seca, agasalho e até uma touca que minha avó tricotou. Isso não tem preço."
Solidariedade que contagia
O que começou como pequena iniciativa de igreja virou corrente boa. Donos de comércio passaram a contribuir, um restaurante doou sopa e até crianças apareceram com sacolas de roupas. "Minha filha de 8 anos insistiu pra trazer o casaco dela do Frozen", riu uma mãe, enquanto ajudava a organizar as doações.
E não foi só material: cada agasalho vinha com um bilhetinho escrito à mão — "Você importa", "Não desista" ou simplesmente "Te amo". Coisa simples, mas que fez mais de um olho se encher d'água naquela manhã gélida.
Enquanto isso, na Praça dos Três Poderes, o movimento era outro. "Tá frio? Tá. Mas a gente esquenta é com abraço mesmo", filosofou Seu Zé, de 73 anos, enquanto ensaiava uns passos de samba pra espantar o frio. E se depender desses anjos de agasalho, o inverno na Baixada promete ser mais quente que o habitual.