
Imagine viver o suficiente para ver uma cidade inteira se transformar diante dos seus olhos. É exatamente isso que dona Maria, 102 anos, e dona Francisca, 104, podem contar — e como contam! Com vozes que carregam o peso (e a doçura) de um século, elas são verdadeiras enciclopédias vivas de Beneditinos, no interior do Piauí.
"Quando cheguei aqui, nem luz elétrica tinha", ri dona Maria, ajustando os óculos que parecem ter a mesma idade que ela. "A gente iluminava as ruas com lamparinas. Agora olha só... até Wi-Fi esses moços inventaram!"
Tempos que não voltam mais
As duas senhoras — que mais parecem irmãs, apesar da diferença de idade — se lembram de detalhes que livros de história jamais registraram:
- O cheiro do café torrado no fogão à lenha antes do sol nascer
- As festas de São João onde todos dançavam até o dia clarear
- O susto quando o primeiro carro apareceu na cidade, em 1953
Dona Francisca, com sua memória afiada como faca nova, até hoje se emociona ao lembrar: "Meu pai dizia que Beneditinos ia ser grande. Acertou, não foi? Só não imaginava que eu ia estar aqui pra ver".
Lições de um século
O que se aprende em 100 anos de vida? As duas concordam em um ponto: "Antes a vida era dura, mas a gente era mais unido". Dona Maria completa, filosofando: "Hoje tem tudo fácil, mas parece que o pessoal esqueceu de viver".
Entre uma xícara de café e outra ("com bastante açúcar, por favor!"), elas revelam segredos de longevidade:
- Nunca deixar de rir — especialmente de si mesmo
- Comer o que a terra dá, sem frescuras
- Manter a fé, seja qual for
A cidade prepara festividades especiais para o centenário, mas quem realmente merece os holofotes são essas mulheres — testemunhas oculares da história que os livros não contam. Como diz dona Francisca, com seu jeito simples de explicar coisas complexas: "Tempo bom a gente guarda aqui no peito. O ruim... bem, esse a gente deixa passar, como nuvem de verão".