Aos 78 anos, Tânia Maria vive um momento extraordinário em sua vida. A artesã e agora atriz se tornou uma das revelações do filme O Agente Secreto, produção nacional que está cotada para representar o Brasil no Oscar. Sua personagem, dona Sebastiana, rouba a cena no thriller político dirigido por Kleber Mendonça Filho.
Da costura às telas do cinema
A trajetória de Tânia Maria no cinema começou tardiamente, mas de forma bastante natural. Antes de se tornar atriz, ela trabalhava como costureira em João Pessoa, onde confeccionava vestidos de noiva e roupas para damas de honra. Do homem, só não fazia o paletó — mas fazia calças, camisas, tudo, conta ela em entrevista.
Após retornar para sua casa na zona rural do Rio Grande do Norte, no povoado de Cobra, município de Parelhas, Tânia decidiu abandonar a costura e se dedicar ao artesanato. Comecei fabricando tapetes e conjuntos de banheiro e de cozinha. Ainda hoje eu faço. Ainda sou artesã, afirma.
A descoberta acidental
O encontro de Tânia Maria com o cinema aconteceu de forma inesperada durante as filmagens de Bacurau em 2019. Ela estava em casa costurando quando ouviu vozes na sala e foi verificar. Ao dizer Boa noite, sua fala rouca — consequência de 65 anos fumando — chamou a atenção de Renata Roberta, que estava recrutando figurantes para o filme.
Era dessa fala que eu estava precisando, disse Renata na época. Assim começou a jornada cinematográfica de Tânia, primeiro como figurante em Bacurau, onde conquistou o diretor Kleber Mendonça Filho com sua espontaneidade.
Do figurante à cena roubada
Durante as gravações de Bacurau, Tânia demonstrou tanto talento natural que Kleber a lembrou durante a escrita do roteiro de O Agente Secreto. No novo filme, ela interpreta dona Sebastiana, uma senhora que cuida de um prédio habitado por refugiados políticos durante a ditadura militar brasileira.
Sua atuação é descrita como espontânea e despreocupada, longe de parecer roteirizada. Eu não estava nem aí se estavam gravando ou não. Não me emocionava com nada, só estava sendo eu mesma, revela Tânia sobre sua experiência nos sets de gravação.
Uma vida sem cinema
O mais curioso na história de Tânia Maria é que, antes de Bacurau, ela nunca havia assistido a um filme em toda sua vida. Eu não sabia nem o que era filme. Nunca tinha assistido. A primeira vez que eu assisti foi com Bacurau, já aos 72 anos, conta.
Essa falta de familiaridade com o cinema a manteve imune ao nervosismo de trabalhar com grandes estrelas. Quando avisaram que Wagner Moura, o protagonista de O Agente Secreto, chegaria ao set, Tânia reagiu com naturalidade: Eu digo que nunca ouvi nem falar. Eu nunca tinha assistido filme com ele.
Rumo ao Oscar
O talento natural de Tânia Maria já chamou a atenção internacional. A revista americana Variety a apontou como uma possível candidata à indicação de melhor atriz coadjuvante no Oscar. Sobre a possibilidade, ela se mostra grata: É muita felicidade. Só de colocarem meu nome, já é muita coisa. Só de Tânia Maria poder ir para o Oscar, já é muita coisa.
Desde sua estreia no cinema, Tânia já participou de várias produções, incluindo Seu Cavalcanti, de Leonardo Lacca, e Almeidinha, filmado em Caicó, no Rio Grande do Norte. Sua agenda agora inclui viagens por todo o Brasil para eventos e gravações.
Conselhos para quem acha que é tarde
Aos 78 anos, Tânia Maria se tornou um exemplo de que nunca é tarde para seguir novos caminhos. Para aqueles que hesitam em perseguir seus sonhos por conta da idade, ela tem um recado claro: Nunca é tarde. Estou vivendo o tempo, e a idade não ofende.
Ela complementa: Eu tenho 78 anos, tenho facilidade de decorar. Eu só sou meio cansada para caminhar, porque tenho muita ansiedade. Mas nós vamos à luta. Nunca é tarde.
A trajetória inspiradora de Tânia Maria prova que o talento pode surgir em qualquer fase da vida, e que a autenticidade é uma qualidade invaluable tanto na arte quanto na vida.