
Eis que chega às telas do país inteiro uma daquelas obras que cutucam a gente onde dói — mas também onde cura. O Último Azul, novo trabalho do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro, desembarca nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7) com uma narrativa que escapa fácil das amarras do gênero puro.
Quem já conhece o trabalho de Mascaro sabe: o cara não entrega o óbvio. Dessa vez, ele se inspirou num evento trágico real — o naufrágio de um barco pesqueiro na costa do Nordeste — para tecer uma trama sobre ausência, espera e os fios invisíveis que unem quem fica.
Entre a ficção e o documento real
O filme acompanha a história de pescadores desaparecidos no mar e suas famílias, que se recusam a aceitar a pergunta sem resposta. O que me pega aqui é como Mascaro borra as linhas entre o que é inventado e o que foi vivido de verdade. Ele não faz drama barato; faz perguntas.
E não é só história — a fotografia é de cair o queixo. Azuis profundos, tons de mar que variam entre o acolhedor e o assustador, e aquele sol nordestino que ilumina até a dor. Parece que cada frame foi pintado à mão, tal a carga emocional das imagens.
Elenco mistura atores e não-atores
Mascaro sempre teve essa pegada — juntar gente do cinema com pessoas comuns, da vida real. E o resultado? Bem, é autenticidade que salta aos olhos. Tem gente no elenco que viveu histórias parecidas, e isso transborda na tela.
Não vou dar spoiler, mas preparem os lenços — ou melhor, preparem-se para pensar. Porque O Último Azul não é só um filme triste; é um filme que questiona como a gente lida com o desconhecido, com a falta de explicações.
Já vi gente comparando com trabalho do Kieslowski ou do Apichatpong Weerasethakul — e até faz sentido, pela vibe contemplativa e pela força visual. Mas Mascaro tem voz própria, um jeito bem brasileiro de contar histórias duras sem perder a poesia.
Para quem curte cinema que mexe, provoca e não trata o espectador como trouxa: anota aí. O Último Azul vale cada minuto na sala escura.