Imagine tocar uma obra de arte e sentir sua história pulsando nas pontas dos dedos. É essa a proposta ousada do artista plástico amazonense Carlos Bessa, que acaba de lançar a exposição 'Antes do Ângulo' — um verdadeiro banquete sensorial que coloca o tato no centro da experiência artística.
Na Galeria Amazônia, coração cultural de Manaus, as paredes ganharam vida com 15 esculturas que parecem conversar com quem as toca. "A gente vive num mundo visual demais", reflete Bessa, enquanto ajusta uma peça que lembra as curvas do Rio Negro. "Quis criar algo que até meu avô, que perdeu a visão, pudesse apreciar."
Uma experiência que vai além do óbvio
Diferente das exposições tradicionais — aquelas cheias de placas de "não toque" — aqui o contato é obrigatório. As obras, feitas de materiais tão diversos quanto látex da seringueira e fibras de buriti, foram pensadas para:
- Estimular memórias afetivas através das texturas
- Desafiar noções pré-concebidas sobre arte
- Promover inclusão de pessoas com deficiência visual
"Tem uma peça que todo mundo erra na primeira tentativa", conta a curadora Ana Pontes, rindo. "Parece um mapa, mas quando você fecha os olhos, vira completamente outra coisa. É mágico!"
Detalhes que fazem diferença
Cada obra vem com:
- Áudio-descrição em três idiomas
- Pisos táteis que guiam o percurso
- Temperatura ambiente controlada para melhorar a percepção
E não pense que é só para quem não enxerga — a mostra tem atraído curiosos de todos os tipos. "Vim por causa do hype nas redes sociais", admite o estudante Lucas, 19, "mas saí daqui vendo o mundo de outro jeito. Literalmente."
A exposição fica em cartaz até 30 de agosto, com entrada franca às quartas. Uma daquelas raras oportunidades de experimentar arte com as mãos — e talvez com o coração também.
