
Numa noite que misturou drama e filosofia, o palco do Teatro Municipal de Presidente Prudente se transformou num espelho da alma humana. A peça 'Quem é, Afinal, o Inimigo?', em cartaz desde sexta (25), corta como faca — sem dó nem piedade — as ilusões que criamos sobre 'os outros'.
Um soco no estômago (e na mente)
Três atores. Setenta minutos. Zero respostas prontas. Assim funciona essa montagem que já nasce clássica, dirigida por Carla Mendonça — aquela mesma que chocou São Paulo com 'O Avesso do Avesso' ano passado.
O que mais impressiona? Talvez seja a cena do espelho quebrado, onde cada fragmento reflete um 'inimigo' diferente: o chefe, o vizinho barulhento, o político corrupto... até o próprio reflexo do personagem principal vira alvo. Genial? Perturbador? Os dois.
O público saiu diferente
'Saí questionando até minha briga com o dono do bar', confessou Marcos, 34, entregador. Já a professora aposentada Ana, 61, ficou em silêncio por dez minutos após o espetáculo: 'Doía, mas doía bem'.
A trilha sonora — ora eletrônica, ora com batidas tribais — parece martelar na cabeça. E aquela cena final, onde os atores trocam de papel no meio do diálogo? Nem me fale. De repente, o agressor vira vítima, o juiz vira réu... a plateia inteira engoliu seco.
Por que ver?
- Performances que arrancam suspiros (e alguns gemidos)
- Textos que cortam feito vidro quebrado
- Uma reflexão urgente sobre polarização social
- Cenário minimalista que transforma cadeiras em campos de batalha
Detalhe curioso: na estreia, dois espectadores que estavam brigando no Twitter se reconheceram e fizeram as pazes. Coincidência? A diretora ri: 'Arte faz isso — coloca sal na ferida pra cicatrizar direito'.
Serviço: Até 10/08 no Teatro Municipal. Ingressos a R$30 (meia) com sessões às 20h de quinta a sábado. Domingo tem debate com elenco após a apresentação das 19h.