Teatro em SP em 2025: Interação, Memórias e Crise
Cena teatral paulistana em 2025: inovação e desafios

O ano de 2025 na cena teatral paulistana foi marcado por uma busca intensa por proximidade com o público, seja por meio da quebra da quarta parede, do resgate de memórias ou da exposição do processo criativo. No entanto, essa efervescência artística conviveu com uma realidade de cortes orçamentários, ameaças de despejo a espaços culturais e conflitos administrativos, pintando um cenário de contrastes para as artes cênicas na cidade.

Experimentos e Interação Marcam os Espetáculos

Um dos momentos mais comentados da temporada aconteceu durante a peça "Sabius, os Moleques", do diretor e autor Gerald Thomas, então com 71 anos. No meio da apresentação, um anúncio interrompeu a ação para informar ao público que a obra havia sido escrita apenas até aquele ponto, revelando o método de Thomas de criar enquanto as cenas acontecem. A surpreendente revelação, que divertiu a plateia, foi um exemplo do teatro que fala sobre o próprio teatro, uma tendência do ano.

Outro grupo que explorou a intimidade com o público foi o Grupo Galpão, na montagem de "(Um) Ensaio sobre a Cegueira". Em cada sessão, quatorze pessoas eram convidadas a subir ao palco, vendadas, para atuar como figurantes sob a condução do elenco. A trupe mineira ainda narrava a história e manipulava cenário, luz e trilha sonora diante dos espectadores, em uma clara exposição brechtiana do fazer artístico.

Veteranos em Cena e o Resgate da Memória

Grandes nomes das artes cênicas também se voltaram para suas próprias histórias, criando espetáculos baseados em memórias. Aos 92 anos, Othon Bastos estreou "Não Me Entrego, Não", no Sesc 14 Bis, um mural de suas experiências. "O que adoro fazer é estar em cena. No teatro, você está diretamente ligado ao público, a reação é imediata", afirmou o ator em entrevista.

Ana Lúcia Torre, 80, seguiu caminho similar em "Olhos nos Olhos", celebrando seis décadas de carreira. Já Amir Haddad e Renato Borghi, ambos com 88 anos, dividiram um palco pela primeira vez no Sesc Consolação. Em um encontro descontraído, revelaram desavenças históricas, como o pacto fracassado entre Borghi e Zé Celso Martinez Corrêa para abandonar as performances mais ousadas do Teatro Oficina, que levou Borghi a deixar a parceria.

A homenagem a Zé Celso seguiu em cartaz no próprio Oficina, com "Senhora dos Afogados". A imagem do diretor em um telão era aplaudida de pé ao final de cada apresentação. A peça, uma parceria entre discípulos de Zé e a diretora Monique Gardenberg, mergulhava na tragédia de Nelson Rodrigues sem medo de ser chamada de "teatrão".

Crise e Resistência nos Bastidores

Apesar da criatividade em cena, o ano não passou incólume às crises. A Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) completou dez anos com sua programação reduzida pela metade devido a dificuldades financeiras. Antonio Araújo, diretor artístico do evento, lamentou a conjuntura desfavorável.

Espaços culturais enfrentaram sérias ameaças. O Grupo XIX de Teatro e a Cia. Mungunzá receberam ordens de despejo da Vila Maria Zélia e do Teatro de Contêiner, respectivamente. O Teatro Ventoforte, no Parque do Povo, foi demolido pela prefeitura, gerando mobilização artística. E o Teatro Bravos, em Pinheiros, anunciou o encerramento de suas atividades teatrais a partir de janeiro de 2026.

O Theatro Municipal de São Paulo também foi palco de turbulências. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) pediu a rescisão do contrato com a organização social Sustenidos após uma polêmica envolvendo um funcionário. O caso escancarou uma guerra ideológica com vereadores conservadores. A confusão levou até ao afastamento temporário do contrabaixista Brian Fountain, que criticou a produção da ópera "Macbeth". Um novo edital para a gestão do teatro foi lançado e depois suspenso pelo Tribunal de Contas, adiando a solução para 2026.

Novos Ares e Esperança

Em contraponto às dificuldades, novas salas surgiram, oxigenando a cena. Foram inaugurados o Teatroiquè, no Butantã; o Teatro Baccarelli, a primeira sala de concerto em Heliópolis; e o Teatro Manás, no Bexiga. O antigo Teatro Alfa, em Santo Amaro, reabriu como BTG Pactual Hall, e o Teatro Eva Herz, no Conjunto Nacional, retornou com o nome de Teatro Youtube. O Instituto Brasileiro de Teatro (IBT) também inaugurou um centro cultural de 7.500 m² na região central.

E enquanto o mundo se despedia do encenador Bob Wilson, a atriz Miriam Mehler, aos 90 anos em cartaz com "Sob o Céu de Paris", sintetizou o sentimento que move a classe: "Eu sempre fico pensando: o que será que vem adiante? Alguma coisa há de vir". Uma frase que resume a resiliência e a esperança do teatro paulistano diante de um ano de claros e escuros.