
Eis que a justiça de Minas Gerais finalmente se pronuncia sobre um caso que já deveria ter estourado há tempos — e não, não é sobre política ou corrupção, mas sobre algo tão visceral quanto: nossa memória arquitetônica. A síndica do famoso Edifício JK, aquele cartão-postal modernista no coração de Belo Horizonte, vai encarar o tribunal por suposta negligência na conservação do prédio. Sim, um patrimônio tombado.
O que me deixa realmente intrigado — além da óbvia questão da preservação — é como um imóvel com tanto valor simbólico pode ser deixado às moscas. A acusação é grave: omitir manutenções essenciais, colocando em risco não só a estrutura, mas também a história que essas paredes carregam.
Não é só um prédio. É um legado.
O JK não é qualquer construção. Tombado pelo patrimônio cultural, ele representa uma era, um estilo, uma assinatura na paisagem urbana de BH. Deixar que se deteriore por pura inação beira o crime contra a cultura — e, pelo visto, contra a lei também.
O Ministério Público entrou com a ação, e agora a síndica responde judicialmente. Se condenada, a coisa pode ficar feia. Multas, obrigação de fazer reparos — ou até coisa pior. A questão que fica: até quando vamos tratar nosso patrimônio histórico como problema, e não como prioridade?
Ah, e não pense que é algo recente. Denúncias rolam faz tempo. Moradores, vizinhos, até historiadores já alertaram: tem coisa errada aí. E olha, quando a comunidade se mobiliza, é porque a situação já passou do limite.
O que esperar do julgamento?
Bom, o processo segue na 1ª Vara Criminal de BH. A defesa deve alegar o que sempre alega: falta de verba, burocracia, pandemia — você conhece o discurso. Mas, cá entre nós, administrar um bem tombado é responsabilidade de alto nível. Não dá para empurrar com a barriga.
Enquanto isso, o edifício continua lá, na sua imponência ferida. Um símbolo à espera de justiça — ou, no mínimo, de um pouco de cuidado.
Fica o recado: patrimônio histórico não é enfeite. É documento, é identidade, é dever de todos. E quando alguém falha com ele, que pague o preço — literalmente.