
Quem passa pela movimentada região central de Sorocaba talvez nem imagine que, escondido no meio do vai e vem da cidade, está um pedaço vivo da história. A Estação Ferroviária, construída em 1875, não é só um ponto de passagem — é o primeiro prédio de alvenaria de tijolos da cidade, uma relíquia que resistiu ao tempo e às transformações urbanas.
Parece até ironia do destino: enquanto arranha-céus de concreto dominam a paisagem, essa construção simples, de tijolos aparentes, carrega nas suas fissuras as memórias de uma Sorocaba que mal reconheceríamos hoje. "É como se cada tijolo fosse uma página de um diário esquecido", comenta um morador antigo, enquanto espera o trem.
Uma Viagem no Tempo
Naquela época — sim, estamos falando do século 19 — construir com tijolos era praticamente uma revolução. A maioria das edificações usava taipa de pilão, técnica tradicional. A estação, portanto, representava o "futuro". Quase 150 anos depois, o futuro virou passado, mas do bom tipo: aquele que merece ser preservado.
Alguns detalhes chamam atenção:
- As janelas altas, que permitiam a entrada de luz sem comprometer a privacidade
- Os tijolos importados de olaria local, cada um com pequenas imperfeições que contam sua origem artesanal
- O relógio da torre — sim, ainda funciona! — que por décadas regulou a vida dos sorocabanos
Mais que Tijolos e Argamassa
O que pouca gente sabe? Essa estação foi cenário de momentos decisivos. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, por exemplo, serviu como ponto estratégico. E olha só: nos anos 1940, foi palco de um emocionante reencontro entre soldados e suas famílias após a Segunda Guerra.
"Minha avó me contava que as pessoas se aglomeravam aqui aos sábados não só para pegar o trem, mas para ouvir as últimas notícias que os maquinistas traziam", lembra Dona Marta, 78 anos, com um sorriso saudosista. Hoje, enquanto tira selfies com o neto diante da construção, ela repete: "Isso aqui é que é história de verdade".
E pensar que, nos anos 1980, quase a demoliriam para construir um estacionamento! Felizmente, o tombamento pelo CONDEPHAAT em 1987 garantiu que essa testemunha silenciosa do progresso continuasse de pé. Agora, entre os planos da prefeitura está transformar o local num centro cultural — ideia que divide opiniões, como tudo que mexe com memória afetiva.