
Eis uma daquelas notícias que fazem a gente coçar a cabeça: o Ministério Público do Rio Grande do Sul resolveu meter o bedelho num programa do governo estadual que tenta dar um destino digno a bichos silvestres apreendidos. A ideia era boa — quem não quer ver um papagaio ou jabuti resgatado do tráfico vivendo feliz num lar? Mas parece que a coisa não tá tão simples assim.
Segundo os promotores, o tal programa de adoção — que começou com pompa e circunstância no começo do ano — estaria colocando a carroça na frente dos bois. Sem critérios claros, sem fiscalização decente e, pior ainda, sem levar em conta os riscos de soltar animais não nativos por aí. Já pensou um mico-leão-dourado solto nos pampas? Nem o bicho nem o ecossistema iam agradecer.
O outro lado da moeda
Do lado do governo, a defesa é de que o programa tem todas as regras do mundo — ou pelo menos deveria ter. "A gente não tá distribuindo bicho como se fosse amostra grátis", disse um técnico da secretaria do ambiente, meio irritado. Eles alegam que os adotantes passam por triagem rigorosa e os animais só são liberados depois de laudos veterinários.
Mas aí que tá o pulo do gato: segundo o MP, alguns bichos estariam sendo entregues sem os exames adequados. E mais — tem espécie que nem consta na lista autorizada pelo Ibama. "Isso aqui tá virando farra", resmungou um promotor que prefere não se identificar.
E agora, José?
Enquanto a Justiça não decide se o programa continua ou não, os animais seguirem num limbo. Alguns já estavam com famílias pré-selecionadas — imagina a decepção da criançada que já até nomeou o futuro bichinho de estimação exótico.
Os especialistas tão divididos: de um lado, os que acham que adoção responsável é melhor que deixar o bicho apodrecendo num centro de triagem; do outro, os que defendem que animal silvestre não é pet e ponto final. "Tem que ver caso a caso", filosofou uma bióloga que trabalha com reabilitação há 15 anos. "Mas o certo mesmo era nem precisar desse programa — se o tráfico fosse combatido como deve, não teríamos esse problema."
Enquanto isso, nos bastidores, rola uma briga feia entre ambientalistas, governo e MP. Parece que ninguém quer ceder — e os bichos, coitados, que se virem. Será que vai sobrar pra eles, como sempre?