
Imagine trabalhar com sorrisos e alegria, mas ter que lidar com o medo constante de ser vítima da violência. É exatamente essa a realidade que assombra uma sorveteria no coração de São Vicente, litoral de São Paulo. Quatro assaltos em apenas dois meses — um a cada quinze dias, em média — transformaram o local num símbolo da insegurança que assola a região.
"Parece que estamos num filme de terror, mas sem a parte de 'cortar' quando a cena fica pesada", desabafa o proprietário, que prefere não se identificar. Ele conta que os criminosos agem sempre da mesma forma: entram armados, ameaçam clientes e funcionários, e levam todo o dinheiro do caixa. "Eles sabem exatamente quando atacar — geralmente no fim de semana, quando temos mais movimento."
Padrão preocupa autoridades
O modus operandi repetitivo — dois homens de capuz, uma moto sem placa, sempre no final da tarde — sugere que pode ser o mesmo grupo agindo. A delegacia regional já foi acionada, mas até agora nenhum suspeito foi preso. "É revoltante", diz uma cliente assídua. "Meus filhos adoravam vir aqui, mas agora tenho medo até de sair de casa."
Os números assustam:
- 1° assalto: 15/06 — R$ 2.800 levados
- 2° assalto: 29/06 — Celulares e joias de clientes roubados
- 3° assalto: 13/07 — Tentativa frustrada (alarme disparou)
- 4° assalto: 27/07 — Prejuízo total ainda não calculado
Enquanto isso, o dono do estabelecimento — que já investiu em câmeras, alarmes e até treinamento para funcionários — se vê num dilema: fechar as portas significa perder o sustento da família, mas continuar aberto é como brincar de roleta-russa. "Parece que estamos entregues à própria sorte", lamenta.
Efeito dominó na região
O clima de insegurança já se espalhou por outros comércios vizinhos. Pelo menos três estabelecimentos na mesma rua aumentaram medidas de segurança nas últimas semanas. "Todo mundo está com o pé atrás", comenta um vendedor de uma loja próxima. "Quando você menos espera, pimba! Lá vem eles de novo."
A Prefeitura de São Vicente prometeu reforçar o policiamento na área, mas moradores cobram ações mais efetivas. Enquanto as promessas não saem do papel, a sorveteria — que antes era ponto de encontro de famílias — agora funciona com portas semi-fechadas e um olho no cliente, outro na rua.