Menos da metade dos policiais usou câmeras em operação mais letal do país
Policiais sem câmeras em operação com 121 mortos

Uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro revelou dados alarmantes sobre o uso de câmeras corporais durante a Operação Contenção, considerada a mais letal da história do país com 121 mortos.

Falta de transparência nas ações policiais

O relatório do MP-RJ mostrou que apenas 77 dos 215 agentes do Bope e 57 dos 128 da Core estavam equipados com câmeras corporais durante a operação nos complexos da Penha e do Alemão, ocorrida em 28 de outubro. Os comandantes Marcelo Corbage (Bope) e Fabrício Oliveira (Core) justificaram que os equipamentos estavam "sem bateria".

A operação, que deveria durar entre 5 e 6 horas, se estendeu por 12 horas, segundo as investigações. O documento foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, relator da ADPF 635, que trata da letalidade policial durante a ação.

Indícios de violações graves de direitos humanos

O relatório elaborado pela Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia do MP-RJ apontou evidências de mortes com características "fora do padrão de confronto". Entre os casos documentados estão:

  • Um corpo com marcas de tiro à curta distância
  • Outro cadáver com sinais de decapitação

"Um corpo apresentava lesões com características de disparo de arma de fogo à curta distância. Outro corpo possuía lesão produzida por projétil de arma de fogo à distância, porém apresentava, adicionalmente, ferimento por decapitação, produzido por instrumento cortante ou corto-contundente", detalha trecho do documento.

Repercussão jurídica e determinações do STF

As necropsias foram acompanhadas por técnicos do MP-RJ no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto entre os dias 28 e 30 de outubro. Na segunda-feira (10), o ministro Alexandre de Moraes determinou que todas as imagens sejam preservadas para investigação.

A operação, comandada pelo governador Cláudio Castro (PL), recebeu intensas críticas de especialistas em Segurança Pública e organizações de direitos humanos devido à alta letalidade. O caso segue sob análise do STF e pode estabelecer precedentes importantes sobre o uso de câmeras corporais e o controle da atividade policial no país.