Policiais presos por morte de Rafael, 35 anos, em abordagem violenta em Campo Grande
Policiais presos após morte em abordagem violenta em MS

Dois policiais militares foram presos nesta sexta-feira, 19 de janeiro, acusados de envolvimento na morte de Rafael da Silva Costa, um homem de 35 anos, durante uma abordagem ocorrida em novembro no bairro Vida Nova, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Detenção ocorre após análise de imagens

Os mandados de prisão preventiva foram cumpridos contra o sargento José Laurentino dos Santos Neto e o soldado Vinícius Araújo. A decisão judicial atendeu a um pedido do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), que destacou a gravidade do caso. O sargento foi detido enquanto estava de férias com a família em Recife, na Paraíba.

As prisões foram determinadas após a análise de imagens de câmeras de segurança, que mostram os agentes algemando a vítima e, em seguida, cometendo agressões. Além das prisões, a polícia realizou buscas no quarto de hotel onde o sargento estava hospedado e na residência do soldado, apreendendo celulares e documentos para as investigações.

Vídeo contradiz versão oficial, diz defesa da família

O advogado da família da vítima, Walisson dos Reis Pereira da Silva, afirmou que o Ministério Público constatou que as imagens contradizem a versão apresentada inicialmente pelos policiais e pela Polícia Militar. "O nosso próximo passo é que eles sejam pronunciados para que sejam levados a júri popular, condenados, expulsos da corporação, e que o Estado indenize essas famílias", declarou o defensor.

O caso remonta ao dia 21 de novembro. Rafael Costa morreu após ser atingido por spray de pimenta e receber duas descargas de arma de choque durante a abordagem. O boletim de ocorrência registrou que ele estaria em surto psíquico no momento. A vítima foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas chegou sem sinais vitais e não resistiu.

A defesa da família sustenta que as imagens indicam que Rafael não apresentava comportamento agressivo. Ele é visto descalço e sem camisa na calçada no momento em que os policiais se aproximam. Após ser imobilizado no chão, sofreu descarga elétrica e foi atingido pelo spray, sendo depois colocado na viatura. A família afirma que ele já estava inconsciente nessa etapa.

Há ainda uma disputa sobre a causa da morte. Enquanto o laudo oficial aponta acidente vascular cerebral (AVC) como causa do óbito, a defesa questiona essa conclusão e sustenta que a morte foi provocada por traumatismo craniano.

Família relata que vítima pedia ajuda em crises

Em depoimento, o irmão de Rafael, Tiago da Silva Costa, revelou um dado crucial: o próprio Rafael teria pedido a presença da polícia momentos antes da abordagem fatal. "Quando ele entrava em surto, pedia para chamar a polícia. Em outras vezes, foi atendido sem problema", contou Tiago.

Rafael não possuía um laudo médico formal, mas tinha registro de atendimento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), indicando histórico de problemas de saúde mental que demandavam cuidado específico.

Respostas das instituições e andamento processual

A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) informou, em nota, que os policiais envolvidos foram afastados das funções operacionais logo após o incidente. A Corregedoria-Geral da corporação instaurou procedimentos administrativos para apurar a conduta dos agentes.

O MPMS, por sua vez, detalhou que a investigação criminal é conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GACEP). Os policiais presos respondem por crimes como tortura, homicídio e abuso de autoridade. As investigações seguem sob a responsabilidade do Ministério Público e da Polícia Civil.