Operação Contenção: 57 câmeras usadas em megaoperação com 121 mortes
Megaoperação Contenção: 57 câmeras em 128 agentes

Problemas com câmeras corporais em megaoperação policial no Rio

O coordenador da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), delegado Fabrício de Oliveira, revelou em depoimento ao Ministério Público que apenas 57 dos 128 agentes que atuaram na megaoperação Contenção utilizaram câmeras corporais durante a ação.

O testemunho ocorreu na segunda-feira (10) para o Gaesp, grupo de atuação especializada em Segurança Pública da Promotoria do Rio de Janeiro. A operação, que contou com participação de policiais militares e agentes do Bope, mobilizou mais de 2.500 agentes e resultou em 121 mortes.

Problemas técnicos e logística complicada

Segundo o delegado Fabrício de Oliveira, a Core possui 100 câmeras corporais disponíveis, mas apenas 68 estavam aptas para uso no dia da operação. Das 68, apenas 57 foram efetivamente utilizadas, restando 11 equipamentos não empregados.

Oliveira explicou que 32 câmeras estavam indisponíveis conforme contabilização da empresa responsável pelos equipamentos. O problema principal ocorreu no momento da retirada das câmeras das docas - salas onde os equipamentos ficam armazenados em suportes para carregamento.

"Em determinado momento começou a dar problema, o policial tentava e não conseguia, aí ficou naquilo, vai para o outro, [também] não conseguia", relatou o coordenador da Core em seu depoimento.

Dinâmica operacional comprometida

O delegado descreveu a logística de utilização das câmeras: "A gente faz um briefing da operação, quando os policiais estão prontos para sair, eles passam nessa sala. É feita até uma fila lá e eles vão tirando e colocando a câmera".

Segundo Oliveira, o problema se tornou recorrente devido à mobilização inédita de 128 policiais em uma única operação. Ele admitiu que pontualmente outros policiais já haviam relatado dificuldades semelhantes anteriormente.

Casos de lesões atípicas investigados

O relatório do Ministério Público também menciona dois casos de "lesões atípicas" entre as vítimas fatais da Operação Contenção. Um dos corpos apresentava características de disparo de arma de fogo a curta distância, enquanto outro possuía lesão por arma de fogo disparada a distância, mas também apresentava ferimento por decapitação.

O caso de decapitação foi identificado como sendo de Yago Ravel Rodrigues Rosário, de 19 anos. Seu corpo foi encontrado decapitado em área de mata da serra da Misericórdia, com a cabeça pendurada entre dois galhos de uma árvore.

STF determina preservação de provas

Na segunda-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou em decisão monocrática que o governo do Rio preserve todas as imagens das câmeras corporais dos policiais civis e militares envolvidos na operação.

A determinação inclui o envio da relação completa dos policiais que participaram da ação e os dados das câmeras utilizadas no dia. O caso tramita no âmbito da ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas.

O Ministério Público já encaminhou a Moraes documentos incluindo relatórios, depoimentos e mapas, além dos registros de imagem dos exames de necropsia. A Promotoria informou que o processo de análise técnica está em fase de catalogação das imagens e que uma reconstrução 3D dos corpos está em desenvolvimento.

Enquanto isso, o governo do Rio solicitou mais tempo para entregar os laudos e a relação completa dos agentes envolvidos na megaoperação, argumentando necessidade de consolidar as informações e esclarecer a forma de envio dos documentos que contêm dados pessoais.