
Os números são mais do que estatísticas. São gritos silenciosos, portas que se fecham, olhares perdidos. Entre janeiro e agosto deste ano de 2025, uma multidão de 3.070 mulheres bateu à porta do Centro de Referência e Apoio à Mulher (CRAM) em São José do Rio Preto. Três mil e setenta histórias de dor, mas também de coragem.
Parece um daqueles dados que a gente lê e logo vira a página, não é? Mas é aqui, do lado, na nossa cidade. E olha, a coisa é séria. O que esses números mostram é assustador: um aumento de 17% em relação ao mesmo período do ano passado. Dezessete por cento! Não é pouco, não.
O Que Está Acontecendo Atrás das Portas Fechadas?
A delegada Fernanda Almeida, que vive na linha de frente desse drama, não hesita: “A subnotificação ainda é nossa maior inimiga. Muitas ainda temem denunciar.” Ela tem um ponto – quantas de nós já não ouviram um ‘briga de marido e mulher, ninguém mete a colher’? Pois é, até que vira notícia de crime.
E não para por aí. O Disque Denúncia 180 recebeu outras 495 ligações só nessa região. Quase quinhentos pedidos de socorro que ecoaram através de uma linha telefônica.
O Mapa da Violência: Bairros em Alerta
Os registros se espalham por toda a cidade, mas alguns lugares parecem concentrar mais casos. É como se certas áreas respirassem um ar mais pesado, mais perigoso para as mulheres. E o pior? Muitas dessas agressões acontecem no lugar que deveria ser o mais seguro: o próprio lar.
Os tipos de violência variam – tem a física, que deixa marcas visíveis, a psicológica, que destrói por dentro, a moral, a patrimonial... É uma guerra sem fronteiras claras.
Não é Apenas um Número: É Maria, Joana, Claudia...
Por trás de cada estatística, tem um rosto. Uma mulher que acordou com medo, que hesitou antes de abrir a porta, que escondeu as marcas com maquiagem. Mas também tem uma mulher que, apesar de tudo, deu o primeiro passo. Que escolheu não silenciar.
E é aí que entram serviços como o CRAM, a Delegacia da Mulher, o Disque 180. São faróis num mar tempestuoso. “Muitas chegam aqui sem saber que têm direitos”, comenta uma psicóloga do centro que preferiu não se identificar. “A informação é nossa primeira arma.”
O caminho é longo. Desde a Lei Maria da Penha, em 2006, muita coisa melhorou – ninguém pode negar. Mas os números de Rio Preto mostram que a estrada ainda é íngreme, cheia de curvas perigosas.
E então? O que fazemos com essa informação? Ignoramos, como se fosse problema distante, ou encaramos de frente? Porque uma coisa é certa: silêncio nunca foi sinônimo de segurança.