Tentativa de Feminicídio: Música de Chico César é Citada em Julgamento e Homem Recebe 14 Anos de Prisão
Música de Chico César citada em julgamento de feminicídio

O tribunal de Mato Grosso do Sul testemunhou nesta sexta-feira (12) uma daquelas cenas jurídicas que ficam na memória — quem estava lá não esquece tão cedo. Não era apenas mais um processo criminal rolando nos autos. Era algo diferente, visceral. A letra de "Mulher Eu Sei", do cantor e compositor Chico César, ecoou na sala como um testemunho silencioso, mas devastadoramente eloquente.

O réu, um homem de 37 anos cuja identidade foi preservada (que convenção, não?), encarou a acusação de tentativa de feminicídio contra a própria companheira. Quatorze anos de reclusão inicialmente em regime fechado — e olha, a justiça pareceu acertar na mosca desta vez.

A defesa tentou — claro que tentou — argumentar que tudo não passava de... como mesmo? Ah, sim: "legítima defesa". Só que a versão dele simplesmente não colou. A promotoria, astutamente, leu trechos da música durante os debates. E não foi por acaso. A música fala de reconhecimento, de ver a mulher como ela é — e a ironia cruel da situação não passou despercebida por ninguém no plenário.

Os detalhes que calaram fundo

A agressão aconteceu em fevereiro do ano passado, dentro da casa do casal. Segundo testemunhas e provas materiais, o clima já estava pesado há tempos — aquele tipo de tensão que precede o pior. Ele a atacou com uma faca. Repito: com uma faca. Ela sobreviveu por pouco, mas as marcas — físicas e psicológicas — ficarão para sempre.

O que mais chocou não foi apenas a brutalidade, mas a frieza. E depois tentaram chamar de legítima defesa? Francamente.

Por que a música importou?

Aqui é que a coisa fica interessante — e tristemente poética. A promotora de Justiça não citou Chico César por acaso. A letra fala de ver a mulher além dos rótulos, além do que a sociedade impõe. E o agressor, ao tentar aniquilar não só a vida, mas a existência dela, fez exatamente o contrário.

Não era uma estratégia meramente emocional. Era simbólica. Mostrava o abismo entre o que se prega sobre respeito e o que se pratica na sombra dos lares.

O julgamento pelo Tribunal do Júri — aquele que decide não só sobre fatos, mas sobre a alma humana — durou horas. Os jurados, sete pessoas comuns, ouviram cada palavra. Viram cada prova. E no final, a decisão foi unânime: culpado.

Além dos 14 anos de prisão, o condenado terá de pagar multa — algo que, convenhamos, é pouco perto do estrago causado. Mas é o que a lei permite. E assim segue a justiça: lenta, imperfeita, mas ainda assim necessária.

Cases como esse deixam a gente pensando: até que ponto a arte pode influenciar a lei? Até que ponto uma canção pode mudar um veredito? Não sei. Mas hoje, em Campo Grande, ela pelo menos garantiu que um agressor não saísse impune.