Feminicídios em SP batem recorde histórico com 233 casos em 2025
Feminicídios em SP atingem maior marca desde 2018

O estado de São Paulo registrou o maior número de feminicídios desde o início da série histórica, em 2018. De janeiro a novembro de 2025, foram contabilizados 233 casos deste crime, conforme dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) na terça-feira (30).

Números alarmantes da violência de gênero

Os registros de violência contra mulheres também atingiram patamares preocupantes. As ocorrências de lesão corporal dolosa (com intenção) bateram a maior marca acumulada desde 2012, com 61.474 queixas registradas nas delegacias. Apenas no mês de novembro, foram 5.936 casos, um aumento em relação aos 5.522 do mesmo mês em 2024.

A capital paulista, que já havia superado o recorde do ano anterior, somou 58 ocorrências de feminicídio no acumulado do ano, com cinco casos registrados somente em novembro. Os dados indicam que 2025 pode terminar com as piores marcas para estes crimes, em meio a uma onda de violência que choca pela brutalidade.

Casos recentes e operação de combate

Entre os casos recentes que ilustram a tragédia está o de Tainara Souza Santos, 31 anos, que morreu na última sexta-feira (26) após 25 dias internada. Ela foi atropelada e arrastada por cerca de 1 quilômetro por um homem apontado como ex-companheiro. Durante a internação, teve ambas as pernas amputadas.

Outro caso ocorreu em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde Tatiana Aparecida Vieira, 40 anos, foi encontrada morta em casa na quinta-feira (25). Ela possuía medida protetiva contra o ex-companheiro, principal suspeito do crime, e apresentava ferimentos no rosto e pescoço. Já na noite de sexta-feira, Sueli Araújo de Souza, 42 anos, foi assassinada com mais de 20 tiros dentro de uma adega no Grajaú, zona sul da capital.

Em resposta à escalada da violência, uma operação coordenada pelas secretarias da Segurança Pública e de Políticas para a Mulher, realizada entre segunda (29) e terça-feira (30), resultou na prisão de 582 infratores. A maioria foi detida por mandado de prisão temporária ou preventiva, e 18 foram presos em flagrante. Cristiane Braga, coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM), informou que a maior parte dos presos responde por crimes de lesão corporal e descumprimento de medidas protetivas. Ao longo do ano, a SSP registrou a prisão de 11 mil agressores.

Resposta do governo e desafios para a prevenção

Em nota, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou ter criado uma política intersecretarial para garantir segurança, saúde e autonomia financeira das mulheres. Entre as ações listadas estão o Protocolo Não se Cale, o aplicativo Mulher Segura, as Cabines Lilás, as Casas da Mulher Paulista, o tornozeleamento eletrônico de agressores e o auxílio-aluguel para vítimas de violência doméstica.

A SSP destacou a expansão das Salas DDMs 24h, que cresceram 174% desde 2023, totalizando 170 unidades em todo o estado, com 108 entregues entre 2023 e 2025. Atualmente, existem 142 DDMs, sendo 18 com funcionamento ininterrupto. Foram inauguradas 20 Casas da Mulher Paulista, com outras 16 em construção e um investimento de R$ 14,5 milhões. Esses espaços funcionam como centros de atendimento integrado para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Especialistas ressaltam que o feminicídio geralmente é o desfecho de um ciclo prolongado de violência. Além da melhora na caracterização e no registro dos crimes desde a Lei do Feminicídio (2015), há um reconhecimento do aumento da violência na sociedade. A prevenção, um dos principais desafios, depende de mais investimentos em educação, incluindo a reeducação masculina, e no fortalecimento de redes de proteção e acolhimento.

Contexto de outros crimes

Em contraste com os dados de violência contra a mulher, os roubos no estado atingiram as marcas mais baixas para o período acumulado e para o mês desde 2001. Em novembro, foram 11.624 roubos no estado e 7.207 na capital. Os homicídios também chegaram à menor marca da série histórica: 193 vítimas no mês e 2.271 no acumulado. Os latrocínios (roubo seguido de morte) caíram 25,6% na comparação com 2024.

Entretanto, a capital paulista registrou uma nova alta de homicídios, com 45 vítimas em novembro e 475 no acumulado – um aumento de cerca de 6% em relação a 2024. Os casos de lesão corporal seguida de morte também tiveram alta, com 34 registros neste ano contra 26 no mesmo período de 2024.

Os furtos apresentaram queda em novembro (43.911 casos), mas o acumulado do ano permanece estável, com cerca de 507,3 mil ocorrências. Na capital, o acumulado de furtos chegou à maior marca desde 2001: 230.550 registros. A SSP informou que atua no combate a esses crimes com reforço no policiamento ostensivo e investigações para prender reincidentes e desarticular grupos especializados.