
Ela cruzava a pista como tantas outras vezes – quem sabe buscando abrigo, comida ou simplesmente um lugar para descansar. Mas naquela madrugada de quinta-feira, por volta das 3h30, o destino foi implacável. Um veículo, trafegando pela BR-304, no trecho que corta Mossoró, não conseguiu evitar a colisão.
A cena que se seguiu foi daquelas que ficam gravadas na memória de quem presencia. A escuridão da noite, interrompida pelas luzes de emergência, revelava uma tragédia anunciada pelas condições precárias de quem vive à margem da sociedade.
O socorro que chegou tarde
O Samu e o Corpo de Bombeiros correram para o local, mas a gravidade dos ferimentos não deixou chances. A mulher – até agora uma desconhecida, sem documentos ou pertences que pudessem contar sua história – não resistiu. Morreu ali mesmo, no asfalto ainda quente da rodovia.
E me pergunto: quantas vezes ela cruzou essa mesma pista antes? Quantos motoristas passaram por ela sem realmente enxergá-la? Perguntas que ficam no ar, como a poeira que levantou com a freada brusca.
O que sabemos até agora
- Local exato: BR-304, sentido Mossoró-Baraúna, nas proximidades do Distrito Industrial
- Horário: Por volta das 3h30 da madrugada de quinta-feira (12)
- Vítima: Mulher aparentando entre 40 e 50 anos, sem identificação
- Estado: Vestia roupas velhas e estava descalça – detalhes que contam mais que qualquer documento
O motorista do veículo, um homem que deve estar vivendo seu próprio inferno particular, prestou socorro imediato e colaborou com as investigações. A Polícia Rodoviária Federal assumiu o caso, mas até o momento não há indicativos de que tenha sido algo além de um acidente terrível.
Uma vida invisível, uma morte visível
O paradoxo é cruel: em vida, ela era mais uma entre os invisíveis da sociedade. Na morte, tornou-se o centro de uma operação policial, com direito a perícia, boletim de ocorrência e a frieza burocrática que acompanha essas tragédias.
O Itep já recolheu o corpo para exames, mas a verdade é que nenhum laudo vai devolver o que realmente importava: seu nome, sua história, sua dignidade. Resta agora esperar que alguém – um familiar, um amigo, alguém que a reconheça – apareça para dar a ela o que a sociedade negou em vida: identidade.
Enquanto isso, Mossoró acorda mais uma vez com o amargo sabor de uma realidade que teima em se repetir. Rodovias que cortam cidades, pessoas que cortam rodovias, e vidas que se perdem no meio do caminho.