
Imagine carregar no corpo as marcas de uma batalha dura contra o câncer — e ainda ter que enfrentar a crueldade gratuita dos próprios colegas de escola. Pois é exatamente isso que aconteceu com um adolescente de Rondônia, que depois de vencer um tratamento oncopediátrico, se tornou alvo de bullying por causa das sequelas que ficaram.
O caso, que já está sendo investigado pela polícia, expõe uma ferida que muita gente prefere ignorar: a violência velada que acontece dentro das salas de aula.
Não foi brincadeira: foi assédio
Testemunhas relataram que o estudante — cuja identidade está preservada — foi alvo de comentários maldosos e de uma perseguição insistente por parte de outro aluno. Tudo por causa de sequelas visíveis deixadas pelo tratamento contra o câncer.
E não, não foi "coisa de criança". Foi algo tão repetitivo e de tão mau gosto que a família decidiu agir. E agiu rápido.
A gota d'água
Segundo pessoas próximas à família, a situação já vinha se arrastando há semanas. Mas foi um episódio específico, mais grave e humilhante, que fez os responsáveis tomarem uma atitude drástica: foram até a delegacia e registraram um boletim de ocorrência.
— A gente não pode mais fechar os olhos para esse tipo de coisa — desabafou um familiar, que preferiu não se identificar. — Ele já lutou tanto... Merece respeito, não zombaria.
E a escola, onde estava?
Essa é a pergunta que não quer calar. A direção do colégio foi notificada e, em nota, afirmou que está acompanhando o caso e que repudia qualquer forma de violência ou discriminação. Mas será que poderia ter agido antes?
Especialistas em educação lembram que instituições de ensino têm obrigação legal de garantir um ambiente seguro — e isso inclui combater o bullying de forma preventiva, não só reativa.
Além da punição: o que fica?
Além da investigação policial, que pode resultar em medidas socioeducativas contra o agressor, o caso reacende um debate necessário sobre inclusão, empatia e saúde mental nas escolas.
Como criar um ambiente onde diferenças — sejam elas quais forem — não sejam motivo de piada, mas de acolhimento? Como preparar professores e alunos para lidar com situações como essa?
Perguntas difíceis, que exigem mais do que discurso. Exigem ação.
Enquanto isso, o adolescente segue tentando retomar sua rotina — com a coragem de quem já enfrentou monstros muito maiores, mas que não deveria precisar lutar contra a falta de humanidade de quem está do seu lado.