
Era uma terça-feira cinzenta quando o caminhão com insumos agrícolas simplesmente não apareceu. O cheiro de terra molhada ainda impregnava o ar, mas o clima na propriedade era de desespero - um vazio que custou R$ 1 milhão ao produtor rural. Quatro anos depois, a condenação do empresário responsável pelo fiasco acendeu uma chama de esperança que parecia apagada.
O prejuízo que doía no bolso e na alma
"Foi como levar um soco no estômago", desabafa o agricultor, que prefere não se identificar - sabe como é, o mercado fala. A transação mal sucedida aconteceu em 2021, quando ele adiantou o pagamento por fertilizantes que nunca chegaram. O golpe deixou marcas profundas: "Tive que replanejar toda a safra, cortar custos onde não dava mais pra cortar... foi um parto".
Na região de Ribeirão Preto, onde o agronegócio é o coração da economia, casos como esse ecoam com força. O empresário condenado - dono de uma distribuidora de insumos - acumulava reclamações no Procon, mas continuava operando. Até agora.
Justiça tarda mas não falha?
A sentença judicial, publicada na última sexta-feira (25/07), determinou o bloqueio de bens do acusado e estabeleceu prazo para restituição dos valores. "Todo mundo aqui tá com um pé atrás, mas também com esperança", comenta um vizinho do produtor prejudicado, enquanto ajusta o chapéu de palha.
Detalhes do processo:
- O empresário foi condenado por estelionato qualificado
- Além da restituição, terá que pagar multa civil
- Cinco outros produtores entraram com ações similares
O advogado responsável pela ação, especializado em direito agrário, explica que a vitória judicial é só o primeiro passo: "Agora vem a fase mais complicada - fazer o dinheiro voltar pro bolso do cliente. Mas a decisão cria um precedente importante pra região".
Enquanto isso, o produtor aguarda. Entre um café e outro na varanda da fazenda, ele confessa: "Se eu recuperar 70% já tô no lucro. O importante é que esse sujeito pare de enganar os outros". A colheita deste ano promete - ironicamente - ser uma das melhores da última década. Justiça divina? Quem sabe.