
Eis uma daquelas histórias que fazem você coçar a cabeça e pensar: 'será que é isso mesmo?'. No centro do Palácio do Araguaia, a sede do governo tocantinense, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) se vê no meio de uma teia financeira no mínimo… peculiar. Tudo gira em torno da sua relação com o advogado Marcelo Lacerda.
Imagine a cena: um chefe do Poder Executivo estadual e um profissional do Direito, trocando não apenas ideias, mas também uma quantia nada trivial de dinheiro. Estamos falando de R$ 178 mil. Um valor que, convenhamos, não é exatamente troco de pinga.
As Transações que Chamaram a Atenção
Acontece que, entre 2017 e 2022, o fluxo de caixa entre os dois foi mais movimentado que rodoviária em véspera de feriado. O detalhe mais intrigante? Boa parte dessas transações foi realizada em espécie. Sim, dinheiro vivo. Algo que, num país com uma infinidade de meios digitais, soa quase anacrônico, para não dizer suspeito.
Mas a trama se espessa. Enquanto essa dança de valores acontecia, o advogado Marcelo Lacerda não era exatamente um desconhecido do setor público. Sua empresa, a ML Consultoria e Assessoria Jurídica, fechou contratos com pelo menos quatro prefeituras do estado – Miracema, Aparecida do Rio Negro, Ponte Alta do Bom Jesus e Rio dos Bois. Convenientemente, todas elas eram administradas por aliados políticos do governador. Uma coincidência e tanto, não?
O que Dizem os Envolvidos?
Procurado para explicar a natureza dessas transações, o governador Barbosa não ficou de rodeios. Através de sua assessoria, foi direto ao ponto: classificou os valores como empréstimos pessoais entre duas pessoas que se conhecem há décadas. Um acordo entre amigos, basicamente. A assessoria ainda enfatizou que todas as movimentações foram devidamente declaradas à Receita Federal, tentando passar um ar de total normalidade e transparência.
Já o advogado Marcelo Lacerda, por sua vez, optou pelo silêncio. Diante dos questionamentos, não se manifestou. Nada. Zero. O que, claro, só alimenta mais a fogueira das especulações.
O Pano de Fundo que Ninguém Pode Ignorar
O que torna essa história ainda mais suculenta é o timing de tudo. As movimentações financeiras ocorreram justamente no período em que Wanderlei Barbosa ocupava posições-chave no estado. Primeiro como secretário, depois como vice-governador e, finalmente, assumindo o cargo máximo. Um momento de ascensão política meteórica.
E não para por aí. A empresa do advogado Lacerda, que recebeu esses empréstimos (segundo a versão do governador), também prestava serviços para municípios administrados por aliados. Isso cria uma percepção – mesmo que não comprovada – de um possível tráfego de influências ou, no mínimo, uma zona cinzenta entre relações pessoais e interesses públicos.
O caso joga um holofote bruto sobre aquela velha e desgastada máxima na política: a separação entre o público e o privado. Até que ponto empréstimos pessoais entre uma autoridade e um prestador de serviços do estado podem ser considerados apenas 'coisa de amigos'? É uma pergunta que fica no ar, ecoando pelos corredores do poder.
Por enquanto, são apenas indícios e questionamentos. Nada foi provado, e ambas as partes negam qualquer irregularidade. Mas, no tribunal da opinião pública, histórias como essa raramente passam em branco. Fica aquele gosto amargo de que, às vezes, a política e os negócios se misturam de um jeito que deixa todo mundo com um pé atrás.