O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), prepara uma ofensiva para investigar alvos que, segundo ele, têm sido protegidos por parlamentares governistas durante as apurações.
Estratégia do relator para desbloquear investigações
Gaspar anunciou que, a partir das próximas sessões, vai cobrar publicamente os parlamentares sobre a necessidade de convocar pessoas cujos nomes apareceram nas investigações do esquema que desviou R$ 4 bilhões das aposentadorias de idosos.
Como parte dessa nova estratégia, o relator também deve reapresentar requerimentos que já foram rejeitados pela CPMI em votações anteriores. Além disso, ele pretende usar seu tempo de fala nas audiências para expor congressistas que estariam impedindo o avanço das investigações.
Para o deputado, a blindagem a alguns personagens tem sido promovida por parlamentares de esquerda e do Centrão, com articulação do Palácio do Planalto, o que explicaria a falta de avanços significativos na apuração.
Casos específicos de blindagem política
Na quinta-feira, ao abrir a sessão, Gaspar citou dois casos emblemáticos que ilustrariam a interferência política nas investigações.
O primeiro caso mencionado foi o do advogado Paulo Boudens, homem de confiança do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União), aliado do governo Lula no Congresso Nacional. Segundo revelações da revista Veja, Boudens recebeu R$ 3 milhões de uma empresa ligada a Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS" e apontado como principal operador das fraudes.
O segundo caso destacado pelo relator foi o de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula e vice-presidente de um dos sindicatos envolvidos nas denúncias de fraude. A convocação do irmão do presidente também foi impedida por articulação dos governistas.
"Tentei trazer aqui Paulo Boudens. Foi blindado. Tentei trazer aqui o Frei Chico. Também foi blindado. Todos têm padrinhos políticos por trás. Falta coragem, falta o povo saber que o discurso feito aqui não é compatível com a realidade", reclamou Gaspar durante a sessão.
Andamento das investigações
A CPMI do INSS foi instalada em agosto e, desde então, já realizou mais de 20 oitivas e recebeu 200 gigabytes de documentos. No entanto, os parlamentares não conseguiram avançar muito além do que a Polícia Federal já havia descoberto sobre o esquema de fraudes.
Oposicionistas que integram a comissão chegaram a apresentar requerimentos pedindo a quebra dos sigilos bancário e fiscal do advogado Paulo Boudens, bem como sua convocação para prestar esclarecimentos. O colegiado, porém, rejeitou o pedido de quebra de sigilos, enquanto os pedidos de convocação ainda aguardam votação.
A nova postura do relator representa uma tentativa de romper o que ele classifica como estagnação deliberada das investigações, pressionando publicamente os parlamentares que estariam protegendo suspeitos com conexões políticas.