Advogado do Mensalão e Fundador do Prerrogativas é Encontrado Sem Vida em São Paulo
Advogado do Mensalão encontrado morto em São Paulo

A notícia chegou como um soco no estômago para o meio jurídico paulistano. Na manhã desta quarta-feira, o silêncio pesado tomou conta do apartamento de luxo na Rua Bela Cintra, região nobre da capital. Era ali, entre paredes que já testemunharam tantos debates acalorados sobre leis e constituição, que Marcelo Miller foi encontrado sem vida.

Quem era esse homem? Para além do terno impecável e da postura sempre confiante nos tribunais, Miller carregava nas costas um peso considerável. Ele integrava a defesa de réus no famigerado processo do Mensalão - aquele escândalo que abalou os alicerces da política brasileira nos anos 2000. E não era qualquer advogado, não. Fundador do Prerrogativas, coletivo que se tornou referência na defesa das garantias profissionais da advocacia, ele sabia como ninguém navegar pelas águas turbulentas do sistema judiciário.

Um final abrupto

A Polícia Militar chegou ao local por volta das 10h30, atendendo a um chamado de preocupação. Um amigo, que não conseguia contato há dias, resolveu verificar pessoalmente. O que encontraram foi uma cena que ainda está sendo desvendada. Não há sinais de violência, dizem as fontes. Nada de arrombamento ou luta corporal. A ausência de um bilhete, no entanto, deixa mais perguntas que respostas.

Parece irônico, não? Um homem que dedicou a vida a desvendar os intricados caminhos da lei, encontrando um fim tão envolto em mistério. Miller tinha apenas 53 anos - uma idade que muitos consideram o auge para um profissional do direito.

Legado e lacunas

O Prerrogativas, sua criação mais conhecida, emitiu uma nota curta mas carregada de emoção. "Luto e consternação" foram as palavras escolhidas. O coletivo perdeu não apenas um fundador, mas uma das vozes mais atuantes na defesa do que chamavam de "direitos fundamentais da advocacia".

E pensar que, há poucos anos, Miller estava no centro de um dos maiores terremotos políticos do país. O Mensalão parecia uma sombra distante, mas sempre presente em seu currículo. Agora, com essa partida tão súbita, fica aquele vazio característico das histórias sem final.

O IML (Instituto Médico Legal) já recebeu o corpo para os procedimentos de praxe. A perícia técnica no apartamento continua, vasculhando cada centímetro por pistas que possam esclarecer o que realmente aconteceu naquela manhã de quarta-feira.

Enquanto isso, nos corredores do fórum e nos escritórios de advocacia, o burburinho é inevitável. Colegas trocam olhares significativos, lembram de casos compartilhados, da última conversa no elevador. A comunidade jurídica paulista perdeu uma de suas figuras mais complexas e interessantes. E o silêncio que ficou? Bem, esse só o tempo - e a investigação - poderão preencher.