PF denuncia laços entre política, Justiça e crime no Rio em relatório
PF desabafa sobre laços entre política, Justiça e crime no Rio

Um relatório da Polícia Federal (PF) expôs de forma contundente os perigosos elos entre o poder político, o Judiciário e o crime organizado no estado do Rio de Janeiro. O documento, que fundamentou uma operação autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, serviu também como um desabafo dos investigadores diante do que classificam como um "caos social diário" na capital fluminense.

Operação revela mensagens comprometedoras

Na semana passada, a PF cumpriu um mandado de prisão contra o desembargador Macário Judice. A ação judicial foi baseada em evidências encontradas no celular do presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar. As mensagens apreendidas revelaram uma comunicação suspeita que indicaria um alerta prévio sobre operações policiais, ilustrando a perigosa relação entre integrantes do Legislativo, do Judiciário e facções criminosas.

Os investigadores aproveitaram o relatório técnico para ir além dos aspectos formais do processo. Em tom de profunda preocupação, eles descreveram a degradação da segurança pública no estado. O texto, datado de 21 de dezembro de 2025, contrasta o Rio de Janeiro atual com sua imagem histórica de "Cidade Maravilhosa".

O desabafo dos delegados: do caos ao "Estado paralelo"

No trecho divulgado do relatório, os delegados da PF são enfáticos ao diagnosticar o problema. Eles afirmam que o tráfico de drogas e armas funciona como motor para uma série de outros crimes, como homicídios, roubos, sequestros e lavagem de dinheiro.

O cenário resultante é definido como um "verdadeiro caos social" que se repete todos os dias, com notícias constantes sobre mortes de criminosos e inocentes em confrontos entre facções. Apesar das intervenções policiais, os agentes federais afirmam não visualizar uma solução efetiva à vista.

A conclusão mais impactante do documento descreve a situação da população:

"Em verdade, essa macrocriminalidade flagela a população, encarcerando-a em territórios faccionados, controlados mediante violência brutal de um organizado Estado paralelo e criminoso".

Os delegados listam as organizações que compõem esse poder paralelo:

  • Primeiro Comando da Capital (PCC)
  • Comando Vermelho (CV)
  • Terceiro Comando Puro (TCP)
  • Amigos dos Amigos (ADA)
  • Milícias

As consequências de um "retrocesso civilizatório"

A operação que prendeu o desembargador Macário Judice é vista como um reflexo de um problema maior. O caso exemplifica como o que os investigadores chamam de "retrocesso civilizatório" no Rio de Janeiro não poupa nem mesmo as instâncias mais altas do poder.

A revelação das mensagens e a prisão de uma figura do Judiciário evidenciam a infiltração do crime organizado em esferas do Estado que deveriam combatê-lo. O relatório da PF deixa claro que a violência brutal e o controle territorial por facções criaram uma realidade de enclausuramento para milhares de cidadãos.

O desabafo contido no documento oficial vai além da mera descrição de crimes. Ele é um alerta sobre a erosão das instituições e a normalização de um estado de exceção em partes significativas do Rio, onde o poder paralelo disputa soberania com o Estado legal.