
Era suposto ser um avanço, um direito básico. Mas no Rio, a conexão que chega às casas de milhares de cariocas tem dono—e não é quem você imagina. Um inquérito brutal da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) escancara uma realidade que muitos desconfiavam, mas poucos ousavam detalhar: milícias e facções viraram os novos barões da internet, comandando provedores clandestinos com mão de ferro.
Não se engane: isso vai muito, mas muito além de um simples serviço pirata. É sobre território. É sobre poder. É sobre controlar até os zeros e uns que trafegam pelos cabos das comunidades. E o pior? A expansão é assustadora.
O Mapa Digital do Crime
O que começou com extorsão e gatonet—sim, aquela velha história—evoluiu para um império telecom. As investigações mostram que pelo menos 15 empresas de internet na região metropolitana do Rio estão nas mãos de milicianos ou facções. Zona Oeste, Baixada Fluminense, até áreas na Zona Sul… a rede de ilegalidade se espalha feito rastro de pólvora.
E o modelo de negócio? Cínico e eficiente. Cobram por um serviço que—surpresa!—não podem ser desconectado por inadimplência. Imaginem a cena: o mesmo grupo que impõe medo com armas é quem oferece "pacotes de internet"… a ironia é de doer.
Como Funciona a Engrenagem
- Monopólio Forçado: Em muitas áreas, só entra o provedor do crime. As operadoras legais? Barradas na base da intimidação. Às vezes, com violência explícita.
- Faturamento Oculto: O dinheiro dos pacotes mensais não vai para uma empresa legal—vai direto para o caixa do crime, financiando mais armas, mais soldados, mais poder.
- Controle Social: Quem controla a comunicação, controla a narrativa. Eles sabem disso. Cortam o sinal para desestabilizar, para pressionar, para mostrar quem manda.
Não é exagero. É estratégia. Um delegado envolvido nas apurações—que obviamente prefere não ter o nome divulgado—resumiu com uma frase curta e grossa: "É a milícia 3.0. Eles não vendem apenas gás e TV a cabo agora. Vendem acesso ao mundo. E cobram caro por isso."
E o usuário? Ah, o usuário… fica refém. Literalmente. Muitas vezes paga um valor abaixo do mercado e até fica satisfeito com o sinal—afinal, a alternativa é ficar offline. Mas o custo invisível é altíssimo: é financiar a própria opressão. É trocar liberdade por um sinal de WiFi.
Uma Cortina de Fumaça Digital
O mais preocupante—sim, tem coisa pior—é como essas redes viram ferramentas de inteligência para o crime. Através do controle da infraestrutura, monitoram acessos, identificam delatores, rastream movimentos de rivais e até espalham desinformação. É vigilância patrocinada pelo próprio vigilado.
E olha, a polícia não está de braços cruzados. A DRCI já identificou dezenas de alvos, e a expectativa é que ordens de prisão e quebra de sigulos saiam em breve. Mas é uma guerra complexa. Cada provedor derrubado pode ser reerguido com outro nome, noutra região, com outro laranja.
O problema, no fundo, não é tecnológico. É de soberania. O Estado perdeu o controle do território físico, e agora perde o digital. E o cidadão comum, ali no meio, vira moeda de troca nesse jogo de poder que não escolheu jogar.
Enquanto isso, nas comunidades, a pergunta não é "qual a velocidade da sua internet?". É "quem é o dono do seu sinal?". E a resposta, cada vez mais, é a que ninguém quer ouvir.