Dois empresários investigados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e organização criminosa recuperaram a liberdade nesta segunda-feira (22) em Rio Branco, no Acre. André Borges e Marck Johnnes Lisboa deixaram o presídio após mais de um mês de prisão preventiva, mas terão de cumprir uma série de medidas cautelares determinadas pela Justiça.
Medidas cautelares e revogação da prisão
A soltura foi autorizada pela Vara Estadual do Juiz das Garantias da Comarca de Rio Branco, que aceitou um pedido de revogação da prisão preventiva feito pela defesa. Para permanecerem em liberdade, os empresários precisam seguir regras estritas.
Entre as condições impostas estão o comparecimento mensal em juízo, a proibição de se ausentar da comarca por mais de 15 dias sem autorização judicial e a obrigação de manter endereço e telefone atualizados. Além disso, eles estão sujeitos a recolhimento domiciliar noturno, das 19h às 5h, e ao uso de tornozeleira eletrônica para monitoramento.
Contexto da Operação Inceptio
Os dois empresários foram presos durante a Operação Inceptio, deflagrada pela Polícia Federal em setembro. A investigação, que abrangeu vários estados, incluindo Acre, Rondônia, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e São Paulo, mirava uma organização criminosa suspeita de atuar no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro em grande escala.
Inicialmente, foram presos preventivamente os irmãos John Muller Lisboa, Mayon Ricary Lisboa e Johnnes Lisboa, além do primo e sócio deles, Douglas Henrique da Cruz. André Borges foi detido na mesma ação, mas liberado quatro dias depois. Marck e Douglas também haviam sido soltos em setembro, mas tiveram a liberdade revogada no início de novembro, junto com Johnnes Lisboa e André Borges, por decisão do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC).
Atualmente, John Muller Lisboa e Mayon Ricary Lisboa continuam presos. A defesa informou que também pediu a revogação da prisão desses dois irmãos e aguarda julgamento.
Empresas de eventos e cargos públicos
O grupo investigado é proprietário de várias empresas do ramo de eventos no Acre. Empresas de Douglas Henrique da Cruz, por exemplo, foram responsáveis pela venda de camarotes e pela contratação de artistas para os shows da Expoacre Rio Branco 2025. Já Johnnes Lisboa é diretor geral da Inove Eventos, empresa que anunciou a vinda do DJ Alok para a capital acreana – show que foi cancelado uma semana após as prisões.
Outro ponto destacado na investigação foi que John Muller Lisboa ocupava um cargo comissionado na Secretaria de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict), com salário superior a R$ 6 mil. Ele foi exonerado no dia seguinte à sua prisão.
Volume financeiro e esquema criminoso
A Justiça determinou o bloqueio de mais de R$ 130 milhões em contas bancárias ligadas ao grupo, além da apreensão de bens avaliados em cerca de R$ 10 milhões. Segundo as investigações, a organização atuava desde 2019, enviando grandes quantidades de drogas do Acre para o Nordeste e Sudeste do país.
O delegado André Barbosa, da Delegacia de Repreensão a Entorpecentes da PF-AC, explicou que o dinheiro do tráfico era movimentado por meio de contas bancárias, criptomoedas e empresas de fachada. "Identificamos que tinha um grupo de narcotraficantes que revendia drogas para os estados do Nordeste e Sudeste e para internalizar o dinheiro, utilizava diversas pessoas físicas e jurídicas para lavar dinheiro, incluindo estabelecimentos comerciais", destacou.
Os suspeitos respondem pelos crimes de tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O caso continua sob investigação, e a situação jurídica dos envolvidos ainda pode sofrer alterações conforme o andamento do processo.