Itália investiga 'safári humano' com turistas pagando até US$ 116 mil para matar civis
Itália investiga 'safári humano' na Guerra da Bósnia

A Procuradoria-Geral de Milão, na Itália, iniciou uma investigação criminal sobre um dos capítulos mais chocantes da Guerra da Bósnia: a suposta participação de turistas italianos ricos em "safáris humanos" onde pagavam para assassinar civis durante o cerco de Sarajevo, na década de 1990.

Os detalhes macabros da denúncia

De acordo com um documento de 17 páginas elaborado pelo jornalista Ezio Gavazzeni, italianos abastados desembolsavam entre US$ 92 mil e US$ 116 mil para passar finais de semana atirando em civis desarmados. A prática macabra incluía até a possibilidade de disparar contra crianças, por um valor adicional ainda mais elevado.

"Estamos falando de pessoas ricas, com reputação. Empresários que, durante o cerco de Sarajevo, pagaram para matar civis desarmados", declarou Gavazzeni. "Eles saíram para uma caçada humana e depois retornaram às suas vidas respeitáveis".

Os envolvidos seriam aficionados por armas e teriam relações próximas a círculos de extrema-direita. O material reunido pelo jornalista indica que os turistas partiam da cidade italiana de Trieste em direção a Sarajevo, embarcando em aviões da companhia aérea sérvia Aviongenex, que operava na região naquele período.

Investigação ganha respaldo internacional

A denúncia conta com o apoio de figuras respeitadas, incluindo o ex-magistrado Guido Salvini e da ex-prefeita de Sarajevo Benjamina Karic, que já havia realizado uma investigação prévia sobre o tema. Gavazzeni explicou que optou por levar o caso à Itália devido às dificuldades de investigação nos outros países envolvidos.

Segundo o jornalista, o judiciário da Sérvia considera o assunto uma "lenda urbana", enquanto a investigação em território bósnio enfrenta obstáculos devido às feridas ainda abertas da guerra, embora o Ministério Público da Bósnia tenha aberto um inquérito sobre o tema.

Testemunhas e possíveis acusações

O promotor Alessandro Gobbis, responsável pelas investigações, possui uma lista extensa de testemunhas que serão convocadas. Entre elas está um agente da inteligência bósnia que afirma ter conhecimento sobre os safáris e alega que a inteligência italiana recebeu informações sobre o caso ainda em 1993.

"Ele me disse que a inteligência bósnia alertou para a presença de pelo menos cinco italianos nas colinas ao redor de Sarajevo, acompanhados para atirar em civis", relatou Gavazzeni.

O jornalista estima que o número de envolvidos pode chegar a 100 pessoas. Uma vez localizados, os suspeitos poderão ser indiciados por homicídio doloso agravado por motivo torpe e crueldade.

O cerco de Sarajevo, que durou de 1992 a 1996, foi um dos episódios mais brutais da Guerra da Bósnia. Milícias sérvio-bósnias se posicionaram ao redor da cidade, com atiradores atingindo civis indiscriminadamente. Estima-se que mais de 5 mil civis tenham sido mortos durante este período.