
O silêncio que se seguiu ao último vídeo é o que mais assusta. Iara Bentes, uma cineasta de 42 anos com olhos que já capturaram tantas histórias, agora é a personagem central de um mistério que deixou família e amigos em estado de alerta máximo.
"Estão se aproximando." Três palavras. Um alerta lacônico que ecoa como um trovão num dia de céu azul. Era assim, curto e direto, o último registro que Iara enviou aos familiares antes de sumir do mapa junto com outros integrantes da Flotilha da Liberdade.
Uma Jornada Marcada pela Incerteza
A tal flotilha — um conjunto de embarcações que tenta furar o bloqueio israelense para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza — partiu do Líbano no último sábado. Iara estava lá, câmera na mão e coração na causa. Mas entre o idealismo e a realidade, há um abismo de riscos que agora se mostra mais ameaçador do que nunca.
Seu irmão, Pedro Bentes, não disfarça a angústia quando fala sobre o assunto. "A gente acompanhava pelos grupos, sabia que ela estava a caminho. Mas quando as mensagens pararam..." A voz some, o silêncio completa a frase. "É um desespero mudo, uma espera que consome."
Os Últimos Sinais
O que se sabe é fragmentado, como cacos de um vidro quebrado:
- O vídeo final mostra Iara visivelmente tensa, mas determinada
- A embarcação seguia em direção a Gaza quando o contato foi perdido
- Familiares já acionaram o Itamaraty em busca de informações
- O governo brasileiro confirmou que está acompanhando o caso
E agora? Agora resta esperar. Esperar e lembrar da Iara que não tem medo de se jogar nas histórias que acredita valerem a pena ser contadas. Mesmo quando essas histórias colocam sua própria segurança em cheque.
Não é a primeira vez que ela se embrenha em zonas de conflito — seu documentário sobre refugiados sírios já mostrou que coragem não lhe falta. Mas desta vez, a sensação é diferente. Mais urgente. Mais pessoal.
Um Quebra-Cabeça Incompleto
O complicado em situações assim é que as informações chegam aos pedaços, misturam-se com rumores, e a linha entre fato e especulação fica tênue. A Marinha israelense, como sempre, alega questões de segurança para justificar o bloqueio. Os ativistas, por outro lado, insistem que estão levando ajuda essencial para uma população sitiada.
No meio disso tudo, há uma brasileira desaparecida. Uma artista. Uma contadora de histórias que agora virou a própria narrativa.
O Itamaraty diz que "mantém contato com as autoridades locais" — aquela linguagem diplomática que tanto diz e tão pouco revela. Enquanto isso, em algum lugar entre o Mediterrâneo e Gaza, Iara e seus companheiros de viagem são só pontos no oceano. Esperando ser encontrados.
Restam as perguntas sem resposta, o vídeo que ficou como última testemunha, e a esperança — teimosa, obstinada — de que esta história ainda tenha um final feliz.