
Era pra ser mais um domingo tranquilo no sertão baiano, mas a realidade mostrou suas garras. A Polícia Civil, agindo como um raio em céu azul, interceptou uma carga que ninguém gostaria de ver: 43 aves silvestres, todas elas arrancadas à força de seu habitat natural. O cenário? Cansação, distrito de Senhor do Bonfim. O motivo? O velho e conhecido comércio cruel que insiste em tratar seres vivos como mercadoria.
Parece que a ganância humana não conhece limites — e dessa vez, ela vestiu as penas coloridas de nossa fauna. As aves, que deveriam estar voando livres pela Caatinga, estavam confinadas em condições que beiram o inacreditável. Algumas tão estressadas que mal conseguiam se mover. Outras, visivelmente debilitadas pela falta dos cuidados mais básicos.
Quem são as vítimas dessa história?
A lista é tristemente familiar para quem acompanha o tráfico animal no Nordeste:
- Coleiros — aqueles pequenos cantores que encantam as manhãs sertanejas
- Canários-da-terra — com seu amarelo vibrante que parece uma explosão de sol
- Trinca-ferros — conhecidos pela resistência, mas nem tanto contra as mãos humanas
- Currós — e outras espécies típicas do bioma local
O que mais corta o coração é pensar que cada uma dessas aves representa um elo rompido na cadeia ambiental. E para quê? Para virar enfeite em gaiola ou apostador clandestino em rinhas ilegais — duas faces da mesma moeda de crueldade.
As consequências vão além das grades da gaiola
O delegado Fabrício Andrade, que coordenou a operação, não mediu palavras: "Isso aqui é crime ambiental da pesada". E não é exagero. Cada pássaro retirado da natureza deixa para trás um vazio ecológico que demora anos para ser preenchido — se é que algum dia será.
As investigações, diga-se de passagem, estão só começando. A Polícia Civil já tem pistas sólidas sobre a rede por trás desse comércio nojentinho. E olha, não vai ser surpresa se descobrirem que os mesmos indivíduos já tinham passagem pela polícia por outros delitos ambientais.
Enquanto isso, as aves resgatadas seguem para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do IBAMA em Salvador. Lá, passarão por avaliação veterinária — quem sabe conseguindo recuperar um pouco do que perderam. O processo de reintrodução à natureza, no entanto, é cheio de incertezas. Muitas nunca mais conseguirão viver em liberdade, tamanho o trauma.
Fica o questionamento: até quando vamos tolerar que nossa fauna seja tratada como produto descartável? A operação em Cansação é só a ponta do iceberg de um problema que assola todo o Brasil. E pensar que, enquanto você lê esta matéria, outras aves estão sendo capturadas em algum canto do país... É de dar nó no estômago.