Censo 2022: 64% dos moradores de favelas vivem em vias sem árvores
IBGE revela disparidade de infraestrutura em favelas

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira, 5 de abril, um recorte inédito do Censo Demográfico de 2022 que joga luz sobre as condições das vias públicas nas favelas e comunidades urbanas do país. Os números revelam uma disparidade gritante na infraestrutura entre o interior dessas localidades e o restante das cidades.

A Crítica Falta de Arborização

O dado mais emblemático da pesquisa se refere à arborização. De acordo com o IBGE, 64% dos residentes em favelas e comunidades moram em vias onde não há presença de árvores. Esse cenário contrasta drasticamente com a realidade fora dessas áreas, onde a proporção de brasileiros que vivem em trechos de ruas sem nenhuma árvore cai para 31%.

Essa diferença, que mais que dobra, é um indicador claro da desigualdade no planejamento urbano e na distribuição de serviços e qualidade ambiental. A falta de árvores impacta diretamente a qualidade de vida, contribuindo para as ilhas de calor, a piora da qualidade do ar e a sensação de abandono por parte do poder público.

Infraestrutura em Foco: Além das Árvores

A análise do IBGE não se limitou à arborização. Os pesquisadores compararam uma série de outros elementos de infraestrutura urbana no entorno dos domicílios, dentro e fora das favelas. A lista inclui itens fundamentais para a mobilidade, segurança e acessibilidade:

  • Presença de bueiros e pavimentação
  • Existência de calçadas
  • Iluminação pública
  • Ocorrência de obstáculos nas vias
  • Pontos de ônibus
  • Rampas de acessibilidade
  • Sinalização para ciclistas

Esses dados, coletados com o mesmo questionário aplicado em todo o território nacional, permitem um retrato fiel e comparável das carências específicas de cada território.

As 20 Maiores Favelas do Brasil

A pesquisa destacou as características das vias nas 20 maiores aglomerações classificadas como favelas ou comunidades urbanas pelo IBGE. A lista é liderada por três grandes comunidades de capitais brasileiras:

  1. Sol Nascente (DF): 70.908 moradores
  2. Rocinha (RJ): 72.021 moradores
  3. Paraisópolis (SP): 58.527 moradores
  4. Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, Manaus (AM): 55.821
  5. Rio das Pedras, Rio de Janeiro (RJ): 55.653
  6. Heliópolis, São Paulo (SP): 55.583
  7. Comunidade São Lucas, Manaus (AM): 53.674
  8. Coroadinho, São Luís (MA): 51.050
  9. Baixadas da Estrada Nova Jurunas, Belém (PA): 43.105
  10. Beiru/Tancredo Neves, Salvador (BA): 38.871
  11. Pernambués, Salvador (BA): 35.110
  12. Zumbi dos Palmares/Nova Luz, Manaus (AM): 34.706
  13. Santa Etelvina, Manaus (AM): 33.031
  14. Baixadas da Condor, Belém (PA): 31.321
  15. Colônia Terra Nova, Manaus (AM): 30.142
  16. Vila São Pedro, São Bernardo do Campo (SP): 28.466
  17. Cidade Olímpica, São Luís (MA): 27.326
  18. Chafik / Macuco, Mauá (SP): 26.835
  19. Grande Vitória, Manaus (AM): 26.733
  20. Jardim Oratório, Mauá (SP): 26.035

A presença de quatro comunidades de Manaus no ranking chama a atenção e reflete a complexa realidade urbana da capital amazonense.

Desigualdade Socioespacial Evidenciada

Para Leticia Giannella, Gerente de Favelas e Comunidades Urbanas do IBGE, esta é a primeira vez que o instituto consegue evidenciar estatisticamente essa desigualdade socioespacial de forma tão clara. "Esse foi o primeiro momento que a gente conseguiu de fato evidenciar essa diferença, essa desigualdade socioespacial", afirmou.

Ela ressalta que a importância do recorte está em subsidiar políticas públicas mais eficazes. "A partir do momento que a gente tem os dados de favela e os dados de entorno, com o mesmo questionário que foi feito dentro e fora de favelas, é possível direcionar esforços para territórios com demandas específicas", explicou Giannella.

As informações divulgadas são um instrumento poderoso para gestores municipais, estaduais e federais, além de iniciativas da sociedade civil, pois apontam com precisão onde os investimentos em infraestrutura urbana, ambiental e de mobilidade são mais urgentes para reduzir as históricas lacunas que marcam as grandes cidades brasileiras.