Um novo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, expõe as graves deficiências de infraestrutura que persistem nas favelas brasileiras. Os dados, extraídos do Censo Demográfico de 2022, mostram que a realidade de milhões de pessoas é marcada por vias de acesso precárias, falta de pavimentação e carência de serviços básicos de saneamento.
Acesso restrito e isolamento nas comunidades
O estudo revela um cenário de isolamento para uma parcela significativa da população. 19,2% dos moradores de favelas no Brasil, o que corresponde a aproximadamente 3,1 milhões de pessoas, residem em ruas e vielas onde só é possível chegar a pé, de moto ou de bicicleta. Essa limitação impede a passagem de veículos maiores, como carros, ambulâncias, ônibus e caminhões de coleta de lixo.
Em contraste, essa realidade é drasticamente diferente fora das comunidades. Apenas 1,4% da população geral do país enfrenta condições de acesso semelhantes, evidenciando uma profunda desigualdade urbana.
Falta de pavimentação e saneamento básico
Além do problema de acesso, a falta de infraestrutura básica no chão das comunidades é alarmante. Outros 3,5 milhões de brasileiros que vivem em favelas moram em vias sem qualquer tipo de pavimentação. A situação se agrava quando se observa os indicadores de saneamento.
Mais da metade dos residentes nessas áreas, 54,6% ou 8,8 milhões de pessoas, vivem em trechos de ruas que não contam com infraestrutura adequada para escoamento de água da chuva, como bueiros ou bocas de lobo. Essa carência contribui para alagamentos e problemas de saúde pública.
Iluminação pública e casos emblemáticos
Um ponto relativamente mais positivo, mas ainda distante da universalização, é a iluminação pública. A pesquisa aponta que 91,1% dos moradores (14,7 milhões) têm esse serviço em suas ruas. No entanto, isso significa que 1,4 milhão de pessoas (8,9%) ainda vivem em locais sem iluminação pública, o que impacta a segurança.
O recorte do IBGE destacou comunidades específicas com os piores índices de acesso viário restrito. Na Rocinha e no Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, e em Paraisópolis, em São Paulo, os percentuais de moradores em vias com capacidade apenas para pedestres, motos ou bicicletas foram de 81,9%, 71,5% e 59,2%, respectivamente.
Filipe Borsani, chefe do Setor de Pesquisas Territoriais do IBGE, explicou a consequência prática dessa realidade. "Para que o lixo seja coletado diretamente por serviço de limpeza, é esperado que os domicílios se localizem em trechos de vias com capacidade máxima de circulação por caminhão, ônibus e veículos de transporte de carga", afirmou. A impossibilidade de entrada desses veículos compromete serviços essenciais.
A pesquisa, que faz parte de um módulo sobre características urbanísticas do entorno dos domicílios, abrangeu 16,2 milhões de pessoas residentes em 12,3 mil favelas, distribuídas por 656 municípios em todo o território nacional. Os números reforçam a urgência de políticas públicas voltadas para a infraestrutura urbana nas áreas mais vulneráveis das cidades brasileiras.