Seguros como aliados na adaptação das cidades às mudanças climáticas
Como o setor de seguros fortalece a resiliência urbana

O processo de urbanização global, acelerado desde a Revolução Industrial, atingiu um marco histórico em 2007. Pela primeira vez, a população urbana superou a rural, segundo dados da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial. Atualmente, 57% da população mundial vive em grandes centros urbanos, e a projeção da ONU indica que esse número chegará a 68% até 2050.

No Brasil, a tendência se confirma. O último Censo do IBGE revelou que, entre 2010 e 2022, a zona rural perdeu 4,3 milhões de habitantes, enquanto as cidades ganharam impressionantes 16,6 milhões de novos moradores. Esse crescimento concentrado criou megalópoles, como a Grande São Paulo, que junto com a região de Campinas e a Baixada Santista, abriga mais de 27 milhões de pessoas.

O desafio climático nas metrópoles

Esse avanço urbano desencadeou uma série de consequências ambientais. A concentração de indústrias, veículos e construções elevou a emissão de carbono na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Como resultado, eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes e intensos, causando prejuízos severos.

O Brasil, antes considerado menos exposto a grandes catástrofes, já sente os efeitos na prática. As fortes chuvas no litoral Norte de São Paulo, as enchentes históricas no Rio Grande do Sul, a estiagem severa no Centro-Oeste e os recentes tornados no Paraná são exemplos claros dessa nova realidade. A realização da COP30 no país só reforçou a urgência de ações concretas.

As mudanças climáticas, no entanto, vão além dos eventos extremos. Elas estão intrinsecamente ligadas à natureza do desenvolvimento urbano. Cidades como Londres, que lida bem com inundações mas sofre com ondas de calor no verão, mostram que cada comunidade precisa encontrar seu próprio caminho de adaptação.

O papel proativo do setor de seguros

Neste cenário complexo, o setor de seguros emerge como um ator fundamental para a construção da resiliência urbana. Tradicionalmente um passo à frente na antecipação de tendências e riscos globais, a indústria agora assume um papel muito mais ativo, indo além da simples indenização de perdas.

Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros, destaca que a adaptação tornou-se uma questão de sobrevivência. A busca é por liderar a transição para um modelo de negócios mais sustentável, através de produtos estruturados e medidas preventivas que fortaleçam a sociedade como um todo.

A atuação proativa do mercado se materializa de várias formas:

  • Análises preditivas para mapear vulnerabilidades e orientar o planejamento.
  • Incentivos à adoção de práticas sustentáveis por parte de segurados e parceiros.
  • Exigência de padrões mais seguros em construções e operações comerciais.

Essa abordagem transforma o seguro em um verdadeiro agente de adaptação, estimulando investimentos em infraestrutura resiliente e soluções inovadoras que reduzem os impactos dos eventos climáticos.

Uma responsabilidade compartilhada

Apesar da sua importância crescente, o setor de seguros não pode agir de forma isolada. A construção de cidades resilientes exige um trabalho mútuo e coordenado entre governos, empresas e a sociedade civil. A colaboração é essencial para estabelecer políticas públicas eficazes, regulamentações adequadas e uma cultura de prevenção.

Em um mundo onde extremos climáticos são cada vez mais frequentes, a adaptação e a mitigação deixaram de ser vantagens competitivas para se tornarem responsabilidades básicas. Garantir a continuidade das cidades e das economias depende da nossa capacidade de agir agora. A resiliência não será obra do acaso, mas sim do esforço conjunto e planejado de todos os setores da sociedade.

Estar preparado para um futuro marcado por incertezas climáticas não é mais uma opção, mas uma necessidade urgente para a sustentabilidade urbana no Brasil e no mundo.