O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, está no caminho para conquistar um título internacional inédito no estado. A unidade de conservação pode se tornar o primeiro Dark Sky Park de Minas Gerais, uma certificação concedida pela DarkSky International a locais com céus noturnos excepcionalmente preservados.
Caminho para a certificação internacional
A candidatura é liderada pelo astrônomo Daniel Mello, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dentro do projeto Astroturismo nos Parques Brasileiros (AstroParques). Entre fevereiro de 2024 e setembro de 2025, a equipe realizou uma série de medições técnicas no parque.
Os estudos incluíram o uso de fotômetros para medir a luminosidade, o mapeamento da poluição luminosa e um inventário detalhado de todas as fontes de luz artificial dentro da área protegida. Os resultados foram conclusivos: o parque apresenta um dos ambientes mais escuros já registrados em unidades de conservação brasileiras, atendendo integralmente aos rigorosos critérios exigidos.
O relatório final será enviado para a DarkSky International no início de 2026. Se aprovado, o Parque da Serra do Brigadeiro se juntará ao Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro, que é atualmente o único no Brasil e o pioneiro na América Latina a ostentar essa certificação.
Potencial para o astroturismo e benefícios regionais
Além da pesquisa técnica, o projeto já promoveu experiências práticas. Em parceria com o grupo Trilha Brigadeiro Caparaó, foram realizadas sessões públicas de observação celeste, que atraíram visitantes de 22 municípios diferentes. Quase metade desse público optou por se hospedar na região, aquecendo a economia local.
Com o apoio de telescópios e orientação especializada, os participantes tiveram a rara oportunidade de observar fenômenos como a Via Láctea em detalhes, a constelação do Cruzeiro do Sul e até a Pequena Nuvem de Magalhães, um objeto celeste visível apenas em locais com poluição luminosa extremamente baixa.
Para Daniel Mello, transformar o local em um Dark Sky Park significa integrar ciência, conservação ambiental e desenvolvimento regional sustentável. Ele destaca que o parque reúne condições raras no Brasil, com qualidade de céu comparável a destinos internacionais já consagrados no astroturismo.
Um patrimônio natural da Mata Atlântica
Criado em 1996, o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro cobre mais de 13 mil hectares de Mata Atlântica preservada, distribuídos por oito municípios: Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Pedra Bonita e Sericita.
A área é um santuário de biodiversidade, abrigando nascentes, mirantes naturais e uma fauna diversa que inclui espécies ameaçadas, como o muriqui-do-norte. Além das futuras atividades noturnas focadas na observação astronômica, o parque já oferece atrativos diurnos populares, como trilhas autoguiadas, banhos de cachoeira, observação de aves e a subida a picos como o Pico do Soares e o Pico do Boné.
A certificação como Dark Sky Park tem o potencial de estruturar e ampliar as atividades noturnas, incluindo caminhadas interpretativas, sessões regulares de observação com telescópios e workshops de astrofotografia, consolidando a região como um polo nacional para quem busca reconectar-se com o espetáculo do universo.
