A Represa Doutor João Penido, um dos principais mananciais de abastecimento de Juiz de Fora, atingiu nesta segunda-feira (24) seu nível mais baixo do ano, com apenas 35,3% de sua capacidade total. O dado alarmante representa menos da metade do volume registrado no mesmo período do ano passado, quando o reservatório estava com 70,6%.
Situação crítica registrada em vídeo
Um vídeo gravado no último sábado (22) pelo empresário Juan Henrique Guimarães mostra a realidade preocupante do reservatório. Em entrevista ao g1, Guimarães afirmou que visita regularmente a região e considerou a situação atual como incomum para o período.
A Represa João Penido integra o sistema de abastecimento da cidade junto com os reservatórios de São Pedro e Chapéu D'Uvas. Enquanto a João Penido enfrenta grave redução, os outros dois mananciais mantiveram níveis praticamente iguais aos registrados em novembro do ano passado.
Posicionamento da Cesama sobre a crise hídrica
A Companhia de Saneamento Municipal (Cesama) demonstrou tranquilidade diante dos números, destacando a flexibilidade operacional do sistema de abastecimento. A empresa explicou que a água da Represa de Chapéu D'Uvas pode ser tratada tanto na Estação de Tratamento de Água Walfrido Machado Mendonça quanto na ETA Marechal Castelo Branco, originalmente vinculada ao sistema da Represa Dr. João Penido.
"Lembrando que a Represa de Chapéu D'Uvas tem volume de acumulação 11 vezes maior que a João Penido e, atualmente, está com nível satisfatório", completou a companhia. Apesar da aparente calma, a Cesama reforçou a necessidade do uso racional da água pela população.
Entenda o sistema de abastecimento de Juiz de Fora
O abastecimento público de Juiz de Fora depende de três represas principais:
- Chapéu D'Uvas: Localizada a 50 quilômetros da nascente do Rio Paraibuna, possui 12 km² de espelho d'água, profundidade máxima de 41 metros e volume de 146 milhões de metros cúbicos. Atualmente abastece cerca de 40% do município.
- João Penido: Situada a 10 km da cidade, tem aproximadamente 7,25 km de comprimento por 1,7 km de largura, com volume armazenado de aproximadamente 16 bilhões de litros. Responsável pelo abastecimento de 50% da cidade.
- São Pedro: O menor dos mananciais, abastece apenas 8% do município, principalmente bairros da Cidade Alta. Produz cerca de 120 litros de água por segundo.
Queda drástica no volume de chuvas preocupa
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) revelam que o volume de chuvas em Juiz de Fora diminuiu drasticamente nos últimos meses. Em novembro de 2024, o acumulado foi de apenas 115 milímetros até o dia 25, enquanto no mesmo período de 2023 o total chegou a 244 milímetros.
Outubro apresentou diferença ainda mais significativa: apenas 21,4 milímetros em 2024 contra 224,6 milímetros no ano anterior. O cenário extremamente seco registrado no mês foi o pior dos últimos 39 anos no município.
A meteorologista do Inmet, Anete Fernandes, explicou que as chuvas vêm ocorrendo de forma irregular e mal distribuídas, com atraso no início da estação chuvosa em relação a anos anteriores. "Por enquanto continuamos com irregularidade, já que as instabilidades estão atuando mais sobre o centro-sul da Bahia. Talvez em dezembro haja normalização nas chuvas", projetou.
Impactos ambientais agravam situação
Para o professor Cezar Henrique Barra Rocha, da Faculdade de Engenharia da UFJF e líder do Núcleo de Análise Geo Ambiental (Nagea), o problema vai além da falta de chuvas. "Repare que não tem quase nenhuma mata ciliar nas margens da represa. Ela que evita o transporte de sedimentos que causa assoreamento. São muitas construções e loteamentos na faixa que era para ter mata", alertou.
O especialista destacou que a represa sofre com assoreamento e esgoto das propriedades do entorno, um processo que ocorre de forma mais agressiva na Represa João Penido. "Infelizmente é um processo que está acontecendo nas represas e mais agressivamente na Represa João Penido. É muita falta de cultura ambiental de todas as pessoas envolvidas", criticou.
Fiscalização enfrenta desafios práticos
A Prefeitura de Juiz de Fora informou que realiza ações regulares de fiscalização ambiental na região. Em 2025, foram 159 atendimentos no local, resultando em 8 notificações ambientais, 8 autos de infração ambiental e 8 autos de suspensão de atividades.
Segundo a administração municipal, existem desafios práticos na fiscalização, como a dificuldade de localização precisa dos imóveis e dos responsáveis, alguns dos quais só comparecem à área em horários de lazer. "Por isso, as fiscalizações têm ocorrido também aos fins de semana e em períodos alternativos, para garantir que todos os casos sejam verificados", explicou a Prefeitura.
Enquanto a Cesama aguarda o período chuvoso para normalizar os níveis do reservatório, a população de Juiz de Fora acompanha com preocupação a evolução da situação hídrica na cidade.
