30 anos de restauração: 1,5 milhão de mudas revivem floresta no Oeste Paulista
Projeto em Presidente Epitácio recupera mata nativa há 30 anos

Um trabalho de três décadas transformou radicalmente a paisagem às margens do Rio Paraná, em Presidente Epitácio, no interior de São Paulo. O que era um pasto altamente degradado hoje é uma reserva de floresta nativa com mil hectares, considerada um dos projetos de restauração ambiental mais sólidos do oeste paulista.

Da degradação à floresta: uma jornada de três décadas

A transformação começou na década de 1980, liderada pela Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar (Apoena). O grupo surgiu com o objetivo de recuperar áreas impactadas pela instalação da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera. O presidente da entidade, Djalma Weffort, descreve o cenário inicial como desolador, marcado por erosão, assoreamento e solo completamente deteriorado.

"Encontramos um pasto altamente degradado e, aí, começamos a fazer um trabalho de formiguinha, vamos dizer assim, plantando mudas, árvores, fazendo a conservação do solo, e chegamos a um momento de colheita, que é a floresta de volta", explicou Weffort. O esforço meticuloso resultou no plantio de 1,5 milhão de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica regional.

Estruturas que sustentam a vida

O coração operacional do projeto é o viveiro da associação, com capacidade para produzir até 400 mil mudas por ano, de 70 espécies diferentes. Outra iniciativa inovadora é a "galharia", um ambiente formado por troncos e galhos que atrai pequenos animais e cria microecossistemas essenciais para o equilíbrio ecológico.

A ONG não se limita ao plantio. Ela desenvolve um contínuo ciclo de projetos que incluem educação ambiental, manejo sustentável e monitoramento do bioma recuperado. Trilhas ecológicas agora cortam áreas de mata fechada, contrastando com a grandiosidade do Rio Paraná.

O retorno da fauna: um termômetro do sucesso

A verdadeira medida do êxito da restauração está no retorno da biodiversidade. Armadilhas fotográficas instaladas na reserva registram a presença de animais que há muito não eram vistos na região. Genildo Roberto de Oliveira, coordenador de campo com 17 anos de Apoena, compartilha a emoção das descobertas.

"Animais que a gente nem sonhava que tinham aqui, como o tamanduá-mirim com o filhote, hoje tem. O tamanduá-bandeira, casal de anta também. Isso é muito gratificante para nós", relatou Oliveira. O registro de espécies como a anta e o tamanduá-bandeira, ambos considerados importantes para a saúde do ecossistema, indica a recuperação funcional da floresta.

Apesar dos avanços impressionantes, o trabalho enfrenta desafios persistentes. O desmatamento ilegal nas proximidades e a necessidade de políticas de conservação mais rígidas e permanentes são obstáculos que exigem atenção contínua.

Nascido para reparar um dano ambiental histórico, o projeto em Presidente Epitácio se consolida hoje como um exemplo palpável de resistência e esperança. Ele demonstra que, com persistência e técnica, é possível reverter cenários de degradação e devolver à natureza seu espaço e sua complexidade, garantindo um legado de floresta em pé para as futuras gerações.