
Era pra ser mais um dia comum na beira do rio, mas o que os ribeirinhos encontraram na última quarta-feira deixou todo mundo de cabelo em pé. De repente, sem aviso, o Rio Acre — que normalmente borbulha de vida — apareceu coberto de peixes mortos. Não eram dois ou três, mas centenas, boiando sem explicação.
"Nunca vi nada igual", conta Dona Maria, 62 anos, que vive ali há décadas. "A água tá com cheiro estranho, diferente. E os peixes? Nem os mais velhos se lembram de algo assim."
Corrida contra o tempo
Assim que a notícia se espalhou, técnicos da Secretaria de Meio Ambiente meteram o pé na estrada. Chegaram de caminhonete, barco e até a pé — o que desse — pra ver de perto o estrago. Equipados com aqueles kits de teste que parecem saídos de filme de ficção, começaram a analisar a água ali mesmo, sob o sol de quase 40 graus.
"Ainda é cedo pra cravar", diz um dos especialistas, esfregando a testa suada. "Mas três coisas são certas: os peixes morreram há pouco, a água tá com parâmetros alterados e a gente não vai embora sem respostas."
Teorias e temores
- Agrotóxicos? A região tem plantações próximas, mas nada recente que justifique
- Esgoto? A comunidade é pequena, o saneamento básico precário — mas sempre foi assim
- Fenômeno natural? Alguns falam em "friagem" nas águas, mas os mais velhos torcem o nariz
Enquanto isso, a vida — ou o que sobrou dela — segue. Crianças que antes mergulhavam no rio agora brincam longe da margem. Pescadores olham pra água com desconfiança. E o cheiro? Ah, o cheiro piora a cada hora que passa.
"Se fosse só os peixes, até ia", comenta Seu José, enquanto acende um cigarro de palha. "Mas e se amanhã for a gente?" A pergunta, dura como pedra, fica pairando no ar quente da tarde.