Mineração circular no Pará: reaproveitamento de rejeitos avança na COP30
Mineração circular no Pará avança na COP30

O estado do Pará emerge como protagonista na mineração sustentável durante a COP 30, com destaque para práticas de reaproveitamento de recursos minerais que podem revolucionar o setor. A conferência consolidou o Brasil, e especialmente o Pará, como líderes na busca por um futuro que equilibra consumo e preservação ambiental.

Potencial do reaproveitamento mineral

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE/IEA), o reaproveitamento de minerais críticos será determinante para reduzir emissões e equilibrar a oferta global desses insumos. Com a crescente demanda por minerais como cobre, níquel e lítio - essenciais para baterias e semicondutores - a reutilização máxima desses recursos se torna estratégica.

O Ministério de Minas e Energia (MME) explica que o níquel e o lítio avançam em reciclagem para baterias de íons-lítio, enquanto o cobre, um dos minerais mais extraídos no Pará, já alcança índices próximos de 100% de reaproveitamento industrial.

Projetos inovadores em operação

No Complexo de Carajás, o Projeto Gelado representa um marco na mineração circular. Localizado em Parauapebas, no sudeste do Pará, a operação produz pellet feed a partir de rejeitos de minério de ferro acumulados desde 1986 na Barragem do Gelado. A operação utiliza bombas e dragas 100% elétricas, demonstrando o compromisso com a descarbonização.

Gildiney Sales, Diretor do Corredor Norte da Vale, detalha que "a mineração circular é um conceito alinhado à mineração do futuro, maximizando o uso dos recursos minerais e gerando valor social".

Em Canaã dos Carajás, uma mina mais recente, inaugurada em 2016, opera com tecnologia de ponta que dispensa barragens de rejeitos e reduz drasticamente o consumo de recursos. Comparada a uma mina convencional, a operação alcança redução de 95% no consumo de água, 73% no consumo de energia e 40% na emissão de gases de efeito estufa.

Recuperação ambiental e novos usos

O professor Rômulo Simões Angélica, do Instituto de Geociências da UFPA, testemunha avanços impressionantes na recuperação de áreas mineradas. "A questão de recuperação de áreas mineradas é fantástica. Você passa por uma área e não acredita que aquilo ali era buraco e tinha sido lavrado", relata sobre visitas a Paragominas.

Eduardo Martins, ex-presidente do Ibama e atual diretor do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), aponta oportunidades ainda pouco exploradas: "Rejeitos de mineração não são só rejeitos. Muito do estéril poderia ser utilizado como insumo para agricultura, como remineralizadores".

Estruturação do setor para o futuro

O Sindicato das Indústrias Minerais do Pará (Simineral) coordena com o Governo do Pará a criação do Banco de Dados Setorial da Mineração, instrumento crucial para governança climática. As empresas associadas já incorporam diversas iniciativas sustentáveis:

  • Tecnologias de mineração 4.0
  • Sistemas de reaproveitamento de rejeitos
  • Digitalização de processos
  • Ampliação do uso de energia renovável

O Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM-2030) e a recém-criada Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE) estabelecem metas concretas para avanço da economia circular e redução de novas extrações.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, "essas ações incentivam parcerias com centros de pesquisa, universidades e empresas locais para desenvolvimento de tecnologias de recuperação de metais, promovendo empregos verdes, eficiência energética e redução de emissões".

Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios na consolidação de dados sobre materiais reciclados, conforme reconhece a Secretaria de Meio Ambiente (Semas). No entanto, a direção está traçada: o Pará avança firmemente na construção de uma mineração mais sustentável e circular.