Pará lidera inovações em mineração sustentável com reaproveitamento de resíduos
O setor mineral do Pará está passando por uma transformação significativa rumo à sustentabilidade, com pesquisas científicas e desenvolvimento tecnológico criando soluções inovadoras para um dos maiores desafios ambientais da região.
Instituto Senai desenvolve fertilizantes a partir de resíduos
O Instituto Senai de Inovação em Tecnologias Minerais (ISI-TM) está na vanguarda dessas iniciativas, focando suas pesquisas em biotecnologia mineral, economia circular e transformação digital. Entre os projetos em andamento, destacam-se o tratamento de resíduos da indústria mineradora e o uso de microrganismos para substituir processos químicos tradicionais.
Uma das iniciativas mais promissoras transforma o pó de basalto, resíduo do processamento de rochas para construção civil, em um fertilizante com capacidade de sequestrar carbono da atmosfera. Outro projeto inovador mistura resíduo de bauxita com biomassa de dendê para produzir condicionador de solo e fertilizante.
Adriano Luchetta, diretor do ISI-TM, explica que essas soluções trazem múltiplos benefícios: "A gente diminui a pressão sobre a necessidade de aumento das minas, valoriza esses resíduos em outras cadeias industriais e permite a recuperação e reflorestamento, fixando carbono em biomassa e no solo".
Bactéria especial para reabilitar minas de Carajás
O instituto também desenvolve estudos para criar uma bactéria redutora de ferro que auxiliará na reabilitação ambiental das minas de Carajás, a maior mina de minério de ferro do mundo, localizada em Parauapebas. Esta pesquisa permitirá que espécies endêmicas da região, algumas em risco de extinção, possam retornar às áreas reabilitadas, fortalecendo a biodiversidade local.
Empresas aderem à economia circular
Na prática empresarial, a mineradora Artemyn, que atua com extração e beneficiamento de caulim em Barcarena e Ipixuna, desenvolveu o projeto premiado Working Horse 2 (WH2). A iniciativa reaproveita material depositado em bacias de rejeitos para produzir novos produtos, como papel e cerâmica.
Roberto Antônio Macedo Silva, coordenador de produção da Artemyn, destaca que o foco principal não era financeiro, mas "melhorar a vida útil da bacia". O grande desafio de engenharia foi alcançar a blendagem ideal - a fórmula de mistura que permite o reaproveitamento do material da bacia para substituir material mais nobre.
Segundo Roberto, o objetivo é transformar o que é considerado um passivo ambiental em matéria-prima com valor comercial, reduzindo a retirada de material virgem diretamente da mina e minimizando o uso de combustível, operação de caminhões e geração de poluentes.
Ferro metálico verde na Alunorte
Na refinaria Alunorte, braço da Hydro em Barcarena, o conceito de economia circular ganha escala industrial com a construção de uma planta de demonstração semi-industrial da New Wave. O projeto visa transformar resíduo de bauxita em ferro metálico verde.
Raphael Costa, consultor sênior em tecnologia da Hydro, explica que a Alunorte gera mais de 4,5 milhões de toneladas por ano de resíduos, com concentração significativa de óxido de ferro (mais de 30%). A expectativa é que o ferro metálico produzido tenha uma pegada ambiental menos da metade da gerada por processos convencionais.
O processo é descrito como "completamente pioneiro" e "muito limpo na questão ambiental". A planta, que processará 50.000 toneladas de resíduo por ano, utiliza micro-ondas e forno de indução, ambos movidos a eletricidade, sem queima de combustíveis fósseis.
Questão de sobrevivência
Paulo Pinho, doutor em ciências ambientais, enfatiza que essa transformação é uma questão de sobrevivência para o setor. "No caso do setor da mineração, é preciso produzir consumindo menos água, menos energia, gerando menos resíduos e aproveitando os resíduos. Isso é uma nova forma de desenvolvimento".
Para ele, o trabalho desenvolvido no Pará é um indicativo claro de que sustentabilidade e viabilidade econômica podem andar juntas, criando um novo paradigma para a mineração na região amazônica.