
Imagine acordar com o cheiro de queimado há quatro dias seguidos. Não é lenha na lareira nem churrasco do vizinho - é um pesadelo ambiental que se arrasta sem piedade. É exatamente isso que vivem centenas de famílias no arquipélago do Marajó e na região do Baixo Tocantins.
Os lixões viraram verdadeiros vulcões em erupção constante. A fumaça? Densa, escura, daquelas que entram pela fresta das janelas e grudam na garganta. As chamas parecem ter vida própria, avançando e recuando conforme o vento decide.
Uma situação que beira o insuportável
Quem mora perto desses locais está praticamente refém dentro de casa. "É como se estivéssemos numa panela de pressão prestes a explodir", desabafa um morador de Breves que preferiu não se identificar. As crianças, coitadas, são as que mais sofrem - tosses constantes, olhos vermelhos, aquela aflição no peito que não passa.
E o pior: não há perspectiva de melhora imediata. Os bombeiros trabalham contra o tempo, mas enfrentam um inimigo traiçoeiro. O fogo em lixões é diferente - queima por baixo, reaparece onde menos se espera, uma verdadeira guerra de gato e rato.
O que dizem as autoridades?
O Corpo de Bombeiros confirmou que os focos são mesmo nos lixões municipais. Em Breves, a situação é particularmente crítica. Já em Baião, a fumaça se espalha como um manto cinzento sobre a cidade. A Defesa Civil está em alerta máximo, mas admite - entre linhas - que a solução definitiva ainda está longe.
É aquela velha história: problema que se arrasta há anos, só que agora chegou num ponto crítico. A população, claro, fica no fogo cruzado. Literalmente.
Efeitos que vão além da fumaça
Não é só o incômodo imediato. Médicos da região alertam para os riscos à saúde a médio e longo prazo. Problemas respiratórios são só a ponta do iceberg - a queima de resíduos libera um coquetel tóxico perigosíssimo.
- Idosos e crianças são os mais vulneráveis
- Atividades ao ar livre se tornaram impraticáveis
- Comércio local sofre com a redução de movimento
- Qualidade do ar está em níveis alarmantes
Enquanto isso, a pergunta que não quer calar: até quando? A população clama por uma solução definitiva, não apenas medidas paliativas. Afinal, ninguém merece viver num cenário apocalíptico.
O que acontece no Pará serve de alerta para todo o país. Lixões a céu aberto são bombas-relógio - e no Marajó e Baixo Tocantins, elas já explodiram. Resta saber quanto tempo levará para apagar esse incêndio, tanto o real quanto o político.