Um novo estudo internacional lança um alerta severo sobre o futuro do clima na Europa e no mundo. A pesquisa, coordenada por cinco institutos de pesquisa climática e publicada na revista Environmental Research Letters, indica que o colapso do sistema de correntes oceânicas que aquece o hemisfério norte pode mergulhar a Europa em uma "pequena era do gelo" antes do previsto, com consequências catastróficas.
O risco iminente do colapso da AMOC
A Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), que inclui a crucial Corrente do Golfo, é o motor térmico que mantém o noroeste da Europa significativamente mais ameno do que outras regiões na mesma latitude, como o Canadá. Segundo a nova análise, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem altas, um colapso completo do sistema pode ocorrer após o ano de 2100.
Este cenário representa uma revisão preocupante de projeções anteriores. Há apenas quatro anos, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ainda expressava confiança moderada de que o sistema não entraria em colapso neste século. Contudo, a pesquisa liderada pelo Serviço Meteorológico Real dos Países Baixos sugere que a desaceleração será drástica até o fim do século, com um ponto de inflexão crítico sendo atingido nas próximas décadas.
Consequências extremas para a Europa e o mundo
O eventual desligamento da AMOC traria transformações radicais. Os invernos no continente europeu se tornariam muito mais rigorosos, com cidades como Edimburgo enfrentando temperaturas de até 30 graus negativos. Paralelamente, a redução da umidade que chega à Europa provocaria secas severas no verão, levando à desertificação de algumas áreas.
"Nas simulações, o ponto de inflexão nos mares-chave do Atlântico Norte geralmente ocorre nas próximas décadas, o que é muito preocupante", afirma Stefan Rahmstorf, do Instituto de Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático (PIK) e coautor do estudo. Ele explica que, uma vez ultrapassado esse limiar, o colapso se torna inevitável devido a um mecanismo de retroalimentação.
O autor principal do estudo, Sybren Drijfhout, é enfático: em todos os cenários de altas emissões analisados, o esgotamento completo do sistema após 2100 é inevitável. "Isso mostra que o risco de colapso é mais sério do que muitas pessoas imaginam", destaca.
Por que o sistema está enfraquecendo?
A AMOC funciona como uma esteira transportadora global, levando água quente e salgada da superfície dos trópicos para o Atlântico Norte e devolvendo água fria em profundidade. O aquecimento global está sabotando esse mecanismo de duas formas principais. Primeiro, a atmosfera mais quente dificulta a liberação do calor das correntes oceânicas no inverno. Segundo, o derretimento acelerado do gelo da Groenlândia despeja água doce no oceano, tornando-a menos salgada e densa, o que prejudica seu afundamento.
"Um enfraquecimento drástico e o desligamento desse sistema teriam consequências severas em escala mundial", alerta Rahmstorf. Ele ressalta que os modelos atuais podem até subestimar o risco, pois nem todos incluem o influxo de água doce do derretimento das calotas polares.
As simulações que se estenderam até os anos 2300-2500 confirmam a tendência de colapso em cenários de altas emissões. Até mesmo em projeções com emissões intermediárias e baixas, o risco de desligamento da "bomba de calor" do Atlântico permanece em cerca de 25%.
A ameaça é levada tão a sério que países diretamente impactados, como a Islândia, já classificaram o fenômeno como uma "ameaça existencial" à segurança nacional. As consequências, no entanto, seriam globais, desestabilizando padrões de chuva na África e na América do Sul, além de causar extremos climáticos sem precedentes na Europa.
A mensagem final dos cientistas é clara: reduzir rapidamente as emissões de carbono é crucial para diminuir significativamente o risco de um colapso da AMOC, embora possa ser tarde demais para eliminá-lo completamente. O tempo para ação decisiva está se esgotando.