COP30 falha em conter fósseis e desmatamento, alerta sociedade civil
COP30 falha em conter crise climática, dizem ONGs

A Conferência do Clima da ONU, realizada no Brasil, terminou sem menções concretas sobre a eliminação dos combustíveis fósseis e do desmatamento - as duas maiores fontes de emissões globais. A COP30 também não esclareceu de onde virão os recursos financeiros necessários para enfrentar a crise climática, tornando-se alvo de duras críticas da sociedade civil internacional.

Falta de ambição e compromissos concretos

Para Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil, alguns países continuam sem tratar a urgência climática com a seriedade necessária. "A COP da Verdade revelou as verdades que, infelizmente, já sabemos: o lobby dos fósseis, dos gigantes do agro e de outros setores que seguem lucrando com a nossa destruição tem sido bem sucedido", afirmou.

Ilan Zugman, diretor para América Latina e Caribe da 350.org, reforçou que a ausência de compromissos concretos no texto final da COP30 beneficia claramente a indústria de combustíveis fósseis e os ultra milionários. "Todos os anos, muitos dos nossos países do Caribe precisam de entre 5% e 10% do seu PIB apenas para se recuperarem de furacões e desastres climáticos", relatou.

Financiamento insuficiente e transição inviável

Ana Carolina González Espinosa, do Natural Resource Governance Institute, alertou que converter palavras em ação exigirá uma mudança profunda no apoio financeiro. "Sem isso, esperar que as pessoas e comunidades das regiões produtoras de petróleo do Sul Global empreendam transições de alto risco continuará sendo um sonho impossível", destacou.

Fernanda Carvalho, do WWF Internacional, avaliou que a dramática ausência de decisões sobre os roteiros da transição energética e para reduzir o desmatamento mundial não reforça o multilateralismo. "Esses roteiros permitiriam avançar a partir do compromisso firmado em 2023, em Dubai", explicou.

Avances paralelos e mobilização social

Apesar das críticas, a COP30 registrou avanços em outras frentes. Zugman destacou que a mobilização mundial nas ruas de Belém impulsionou uma coalizão de quase 90 países apoiando o fim da produção e uso de combustíveis fósseis. "Esse impulso já é imparável", comemorou.

Tatiana Oliveira, do WWF-Brasil, avaliou que a COP30 foi um divisor de águas ao reconhecer que a ação climática vai além das salas formais da UNFCCC. "A distância entre a força social e as páginas frágeis do acordo mostra que as soluções vêm das pessoas e dos territórios", afirmou.

Entre as conquistas destacadas estão:

  • Inclusão de afrodescendentes no texto oficial
  • Menção aos direitos territoriais dos povos indígenas
  • Reconhecimento do Consentimento Livre, Prévio e Informado
  • Participação histórica indígena que levou à homologação de terras
  • Mobilização de 117 planos para acelerar soluções em larga escala

Gisela Hurtado, da Stand.earth, ressaltou o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas como uma vitória importante da COP realizada pela primeira vez na Amazônia. Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, lembrou que a conferência foi marcada pela forte inclusão de grupos sociais como povos indígenas e comunidades locais.

Embora tenham sido reconhecidos avanços e possibilidades para conter os fósseis e o desmatamento, o Sul Global não tem mais tempo para esperar por outra COP que não considere seriamente a necessidade de transição energética, conforme alertou Carolina Sánchez Naranjo, da Rede do Grande Caribe Livre de Fósseis.