COP 30: Carlos Nobre alerta que Belém pode ser inabitável em 2070
Climatologista alerta para futuro de Belém na COP 30

O renomado climatologista Carlos Nobre fez uma análise contundente sobre os resultados da Conferência do Clima da ONU, a COP 30, realizada em novembro em Belém. A apresentação ocorreu nesta terça-feira (2) durante o Festival LED - Luz na Educação, na capital paraense, onde o cientista destacou a urgência da crise climática e os desafios que permanecem.

Alerta Severo para o Futuro de Belém

Nobre foi direto ao ponto ao descrever a gravidade da situação global. "Todos nós esperávamos que esta seria a mais importante de todas as COPs, porque nunca o planeta, desde que nós existimos, esteve com o risco que estamos agora de emergência climática", afirmou o especialista.

Ele emitiu um alerta específico e preocupante para a cidade que sediou o evento. Segundo suas projeções, se não houver uma redução rápida nas emissões de gases do efeito estufa, Belém se tornará inabitável até o ano de 2070. Nesse cenário, a temperatura média global subiria entre 2,7°C e 2,8°C, mas o impacto local na capital paraense seria ainda mais drástico, com um aumento estimado em até 5°C.

Frustrações e Avanços da Conferência

Apesar das altas expectativas iniciais, inclusive do presidente Lula, Nobre criticou a falta de consenso em pontos cruciais. "Infelizmente a gente não aprovou os mapas do caminho para zerar os combustíveis fósseis e o desmatamento rapidamente", lamentou. Ele explicou que o processo decisório das COPs, que funciona por consenso e não por maioria, foi o principal obstáculo para a aprovação dessas metas essenciais.

Contudo, o cientista também apontou conquistas significativas do chamado "Pacote de Belém", aprovado por 195 países. Entre os ganhos estão:

  • A aprovação de cerca de 50 pontos relacionados a adaptação climática.
  • A criação do Comitê de Belém.
  • O estabelecimento de um fundo de pelo menos US$ 300 bilhões anuais para populações vulneráveis.
  • A meta de triplicar os financiamentos para adaptação até 2035.

Nobre destacou ainda o caráter histórico da participação social nesta edição: "Foi também a primeira COP com grande número de indígenas. Foi a primeira COP que colocou no seu documento como nós temos que valorizar e proteger todos os afrodescendentes". Para ele, essa inclusão representa a valorização do conhecimento tradicional "pela primeira vez em 500 anos".

O Maior Desafio: Combustíveis Fósseis

O climatologista enfatizou que a questão energética está no centro da crise. "Sem dúvida, o maior desafio é porque nós estamos numa emergência e 75% das emissões dos gases do efeito estufa são queima de combustíveis fósseis", declarou. Ele lembrou que essa poluição é responsável por cerca de 7 milhões de mortes prematuras anuais em áreas urbanas.

Defendendo o fim do uso desses combustíveis até 2040, e no máximo 2045, Nobre apresentou argumentos econômicos convincentes. "Os painéis solares hoje já são 1/4 do preço da energia termoelétrica, não geram poluentes, e a energia solar emprega 4 vezes mais pessoas que termoelétricas", comparou.

Ele citou a iniciativa, proposta pela secretária executiva da COP 30, Ana Toni, de criar um painel científico dedicado à transição energética. Preparativos para a próxima conferência já estão em andamento, com reuniões marcadas na Colômbia para elaborar um relatório para a COP 31.

Expectativas para a COP 31 e a Liderança Brasileira

Com a próxima conferência marcada para 2026, na Turquia ou Austrália, Carlos Nobre demonstrou otimismo com a continuidade da liderança brasileira no processo, que se estenderá até novembro de 2026. Ele elogiou a motivação do presidente da COP, André Corrêa do Lago, e da secretária executiva, Ana Toni.

"Eles querem levar muito essa discussão agora sem parar para que toda a preparação para a COP 31 [...] ela realmente seja para o que a COP 30 não foi", projetou Nobre. Sua principal aposta para a próxima reunião global é o avanço nos tão aguardados mapas do caminho para eliminar os combustíveis fósseis e o desmatamento.

Por fim, o cientista defendeu a manutenção do legado de inclusão. "É importante que também na COP 31 em diante todos os povos indígenas, de comunidades locais estejam presentes porque isso marcou muito bem essa COP", concluiu, reforçando a necessidade de dar voz aos grupos tradicionalmente marginalizados nas discussões sobre o futuro do planeta.