Caso Curral Velho: Justiça julga acusados após 21 anos
Caso Curral Velho: julgamento após 21 anos

Mais de vinte anos se passaram desde a noite traumática que marcou a comunidade de Curral Velho, no município de Acaraú, litoral do Ceará. Agora, a Justiça cearense se prepara para escrever um novo capítulo neste emblemático caso de violência socioambiental.

O crime que chocou o Ceará

Na noite de 7 de setembro de 2004, um viveiro de camarão foi palco de uma tentativa de homicídio que vitimou onze pescadores locais. De acordo com as investigações do Ministério Público, policiais lotados no município de Horizonte - distante 278 km de Acaraú - teriam agido a mando da empresa Fazenda Joli Pescados.

Os agentes, que realizavam segurança privada utilizando armas do Estado, efetuaram disparos contra os pescadores, torturaram as vítimas e ameaçaram outros moradores de morte. O ataque teria sido uma retaliação pela resistência da comunidade à entrada de máquinas da empresa em uma área de mangue que estava judicialmente interditada e já era reconhecida como zona de proteção ambiental.

Vítimas e consequências

Naquela noite fatídica, três pessoas foram atingidas por tiros, enquanto outras relataram terem sido submetidas a agressões físicas violentas, incluindo golpes de pau e cassetete. Entre as vítimas estavam inclusive adolescentes, conforme detalhou a Defensoria Pública do Ceará, que atua no caso.

Com os acusados foi apreendido um verdadeiro arsenal, composto por armas particulares e equipamento pertencente ao Estado. O material incluía pistolas, revólveres, espingardas, grande quantidade de munição, coletes balísticos e algemas.

Julgamento histórico após 21 anos

Na próxima segunda-feira (24), exatamente 21 anos após o crime, três réus finalmente serão julgados pela 1ª Vara do Júri de Fortaleza. Os acusados são Luciano Barreto Coutinho Benevides, José Werbster Gonçalves de Sousa e José Roberto Lira, que respondem pela acusação de tentativa de homicídio.

O caso, que ficou conhecido como "Caso Curral Velho", é considerado pelas autoridades como um dos mais emblemáticos conflitos socioambientais relacionados à expansão da carcinicultura - criação de camarões em cativeiro - no estado do Ceará.

Na época dos fatos, os suspeitos chegaram a ser presos, mas o processo judicial se arrastou por mais de duas décadas, mantendo as vítimas e a comunidade em uma longa espera por justiça.