A icônica Marquise do Parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, pode passar por uma transformação radical em seu uso quando for reaberta em 2026. Um projeto da Prefeitura de São Paulo pretende proibir a prática de skate, patins, bicicletas e até mesmo a realização de piqueniques no local que se tornou ponto de encontro de diferentes grupos da cidade.
Proposta polêmica gera conflito
O secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Rodrigo Kenji Ashiuchi (PL), apresentou ao Conselho Gestor do Parque Ibirapuera uma minuta de decreto que estabelece as novas regras para o uso da Marquise. O documento, que ainda não foi aprovado, será analisado pelos conselheiros na reunião marcada para 10 de dezembro.
Segundo apurou o g1, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) planeja reinaugurar a Marquise no dia 25 de janeiro de 2026, data do aniversário da cidade de São Paulo. A proposta, feita a pedido da concessionária Urbia, responsável pela gestão do parque, prevê que o espaço seja destinado principalmente para feiras, ativações de marketing e práticas de assessorias esportivas.
Investimento milionário e críticas
A obra de revitalização da Marquise já custou R$ 86,9 milhões, valor que supera em R$ 15 milhões o orçamento inicial de R$ 71,9 milhões. A área está interditada desde 2019 devido a riscos estruturais.
Os conselheiros que representam os frequentadores do parque e as associações de bairro do entorno rejeitam as restrições propostas. A conselheira Elaine Pimenta lembra que o conjunto arquitetônico do Ibirapuera é tombado pelo patrimônio histórico e que Oscar Niemeyer idealizou a Marquise como espaço de convivência cultural e social.
"Essa proposta é imoral, não só porque descaracteriza um patrimônio da cidade, mas também porque gasta milhões em dinheiro público para destinar a área apenas para a exploração comercial da Urbia", criticou Pimenta.
Defesa da prefeitura e alternativas
Em nota, o secretário Ashiuchi afirmou que "a minuta é uma proposta inicial da equipe técnica da Pasta encaminhada ao secretário para análise e discussão com a comunidade, não se tratando de uma versão final".
A Secretaria do Verde e Meio Ambiente garantiu que o texto passará por discussões públicas com participação do Conselho Gestor, órgãos de patrimônio e sociedade civil. O objetivo declarado é construir "uma norma que assegure o uso democrático, seguro e sustentável da Marquise".
De acordo com a ata da reunião de outubro, a Urbia se comprometeu a criar um local específico para a prática de patins e skate dentro do parque, na Arena de Eventos, entre o Pavilhão da Bienal (Pacubra) e o Museu Afro Brasil. No entanto, a concessionária não estabeleceu prazo para a criação desse espaço alternativo.
O debate sobre o futuro da Marquise do Ibirapuera reflete tensões mais amplas sobre o uso do espaço público na cidade de São Paulo, colocando em conflito interesses comerciais, preservação patrimonial e práticas culturais consolidadas ao longo de décadas.