Um levantamento inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta sexta-feira (5), trouxe um retrato detalhado das condições urbanísticas nas favelas e comunidades do Piauí. A pesquisa, parte do Censo Demográfico de 2022, focou no entorno dos domicílios e destacou questões críticas como a pavimentação, a presença de calçadas com obstáculos e a falta de bueiros nesses territórios.
Calçadas: acesso alto, mas qualidade comprometida
O Piauí apresentou um dado surpreendente em nível nacional: 83,9% dos moradores de favelas e comunidades urbanas residiam em vias com calçadas em 2022. Esse é o maior percentual entre todos os estados do Brasil, superando a média nacional para essas localidades, que foi de apenas 53,53%.
No entanto, esse acesso amplo não se traduz em qualidade ou segurança. A mesma pesquisa revela que 82,5% desses moradores vivem em ruas onde as calçadas apresentam obstáculos ao livre trânsito. Esse também é o maior índice do país. Postes, árvores, buracos e desníveis são alguns dos empecilhos que dificultam a circulação, especialmente para idosos, pessoas com deficiência, gestantes e crianças.
A situação se torna mais clara ao comparar com quem vive fora dessas comunidades. No estado, 93,28% dos residentes em áreas regulares têm acesso a calçadas, uma diferença de 9,38 pontos percentuais. A diferença nacional é ainda mais gritante: 35,6 pontos percentuais.
O que definem as favelas e comunidades urbanas
O IBGE define esses territórios como áreas que surgiram de estratégias populares para garantir moradia e outros usos, como comércio e lazer, diante da insuficiência de políticas públicas e investimentos privados. São caracterizados por graus de insegurança jurídica na posse do imóvel e pela oferta precária ou incompleta de serviços públicos.
Além disso, predominam construções e arruamentos que seguem parâmetros distintos dos definidos pelo poder público, muitas vezes em áreas de restrição ambiental ou de risco. Os dados servem, segundo o instituto, como base essencial para o planejamento urbano municipal e para a criação de políticas públicas mais eficazes.
Ranking nacional e impactos na população
Além do Piauí, outros estados do Nordeste se destacaram positivamente no acesso a calçadas em comunidades: Sergipe (83,24%), Maranhão (76,15%) e Rio Grande do Norte (73,86%). Na outra ponta, com os menores índices, aparecem Roraima (16,81%), Mato Grosso do Sul (17,35%) e Amapá (19,36%).
A existência de calçadas acessíveis e sem barreiras é fundamental para a segurança, o conforto e a inclusão de todos os pedestres. Obstáculos não só dificultam o tráfego, como aumentam significativamente o risco de acidentes. A pesquisa do IBGE evidencia, portanto, um paradoxo no Piauí: um acesso quantitativamente bom à infraestrutura básica para pedestres, mas com uma qualidade que deixa a desejar e coloca em risco parte da população.
As informações reforçam a necessidade de políticas públicas que não apenas levem infraestrutura para essas áreas, mas que garantam sua manutenção e adequação aos princípios de acessibilidade universal, essenciais para a saúde e a qualidade de vida nas cidades.