Tamanduá-bandeira ensina filhote a comer em cena rara em Potangaba (SP)
Tamanduá ensina filhote a se alimentar em SP

Uma cena de rara beleza e significado foi capturada pelas lentes do fotógrafo e documentarista Rodrigo Dallano na zona rural de Potangaba, interior de São Paulo. Em julho de 2024, ele registrou um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) acompanhado de seu filhote, enquanto o pequeno aprendia a se alimentar em um cupinzeiro.

Um registro que mistura realidade e sonho

O momento, descrito pelo próprio Dallano como “um instante em que o real e o sonho se confundem”, mostra o filhote atento aos movimentos da mãe. Desde 2022, o fotógrafo se dedica a reflorestar o sítio onde vive e a documentar a fauna que retorna à região. Suas imagens são compartilhadas no YouTube e no Instagram.

Com a recuperação da vegetação nativa da Mata Atlântica, que vem ocupando o espaço antes dominado por pastagens, Dallano tem testemunhado o reaparecimento de diversas espécies. Além dos tamanduás, onças-pardas, jaguatiricas e socós-bois já passaram por suas lentes.

“Minha relação com a natureza começa pelo entendimento de que sou parte dela”, reflete o documentarista. “Desde que iniciei o reflorestamento, tenho cada vez mais a certeza de que cuidar da natureza é cuidar de si próprio.”

O lento aprendizado do filhote

Segundo a bióloga Flávia Miranda, presidente do Instituto Tamanduá, o comportamento registrado é fundamental para o desenvolvimento do filhote. Ele observa a mãe durante a amamentação – já que costuma ficar nas suas costas – e acompanha o forrageamento para aprender a técnica.

“A idade em que ele para de mamar e começa a comer insetos ainda não é certa. Acreditamos que seja em torno de quatro a cinco meses”, explica Flávia. “Dá para ver no vídeo que ele desce, forrageia, depois sobe novamente, busca a amamentação e volta para o cupinzeiro. É uma transição lenta.”

A especialista acrescenta que também não se sabe ao certo quando ocorre a dispersão, mas a estimativa é que o filhote se torne independente da mãe por volta desse mesmo período.

A incrível biologia de um gigante insetívoro

O tamanduá-bandeira é um animal fascinante sob muitos aspectos. Sua dieta é composta principalmente por formigas e cupins, podendo consumir até 30 mil formigas em um único dia. Para isso, conta com adaptações únicas.

Seu olfato apurado, auxiliado pelo focinho alongado, é essencial para farejar os insetos no solo. A ferramenta principal, porém, é a língua. “Do ponto de vista evolutivo, esses animais não possuem dentes”, detalha Flávia Miranda. “A língua, alongada e vermiforme, é coberta por uma saliva viscosa que gruda nos insetos.”

Todo o peitoral do tamanduá é formado por glândulas salivares, e a língua fica armazenada em uma bolsa repleta de células produtoras dessa saliva pegajosa.

“Os tamanduás são seres apaixonantes, extremamente antigos e exclusivos da América Latina, com cerca de 33 milhões de anos”, finaliza a presidente do Instituto Tamanduá. “São animais incríveis.”

O trabalho do Instituto Tamanduá

Fundado em 2005, o Instituto Tamanduá atua há quase duas décadas na conservação da biodiversidade brasileira, com foco em pesquisas científicas, educação ambiental e políticas públicas. Referência no estudo de tamanduás, tatus e preguiças, a organização ampliou sua atuação para a conservação dos habitats.

Um de seus projetos mais recentes é o resgate e reabilitação de tamanduás-bandeira órfãos, iniciativa que começou após os graves incêndios no Pantanal em 2020. O trabalho é realizado na Pousada Aguapé, em Aquidauana (MS), com o objetivo de devolver os animais recuperados à natureza.