Navio com 3 mil vacas à beira da morte retorna ao Uruguai após meses no mar
Navio com 3 mil vacas retorna ao Uruguai em crise

Drama animal no Mediterrâneo: navio com 3 mil vacas tenta retorno desesperador

Um navio cargueiro que vagueia há meses pelos mares está tentando retornar ao Uruguai com quase três mil vacas e bezerros à beira da morte. O Spiridon II, que partiu de Montevidéu em 19 de setembro, enfrenta uma das mais graves crises de bem-estar animal já registradas no transporte marítimo internacional.

A situação tornou-se tão crítica que a Animal Welfare Foundation, organização internacional especializada em proteção animal, está acompanhando a rota do navio e alerta: a maioria dos animais não deve sobreviver à viagem de retorno.

Uma jornada marcada pela burocracia e sofrimento

O navio, que zarpou do Uruguai com destino ao porto turco de Bandirma, chegou à Turquia em 22 de outubro após cerca de um mês de viagem. Porém, as autoridades turcas identificaram problemas na documentação: 469 animais estavam sem os brincos ou chips eletrônicos obrigatórios.

Devido ao impasse sobre a certificação, o Spiridon II ficou ancorado por mais de três semanas sem poder descarregar os animais. Com o passar dos dias, a situação a bordo deteriorou-se drasticamente. Estimativas iniciais apontam que pelo menos 58 vacas já morreram durante o período de espera.

Maria Boada Saña, representante da Animal Welfare Foundation, não hesita em classificar o retorno como uma "viagem de morte". A especialista considera improvável que a maioria dos animais sobreviva a essa jornada adicional de um mês.

Condições precárias a bordo

As condições a bordo são descritas como catastróficas:

  • Escassez de alimento e água para sustentar os animais
  • Metade do rebanho está prenha, com abortos considerados quase inevitáveis
  • Mais de 140 bezerros já nasceram durante a viagem, mas têm poucas chances de sobrevivência
  • Problemas de ventilação e superlotação nos compartimentos
  • Tripulação sem treinamento adequado para cuidar de animais doentes

O carregamento original continha 2.901 vacas destinadas a atividades de engorda e reprodução. Agora, o que era um negócio comercial transformou-se em uma tragédia anunciada.

Falhas sistêmicas e apelos desesperados

A Animal Welfare Foundation publicou uma petição urgente pedindo que países europeus aceitem os animais. "Não podemos simplesmente abandonar esses animais à própria sorte. Agora é o momento de pressionar. O navio Spiridon II permanecerá em águas europeias por mais uma semana, aproximadamente. A janela de oportunidade para intervenção é mínima", alerta o documento.

A última atualização sobre a embarcação mostrava que ela estava no Mar Mediterrâneo, próximo à costa da Líbia, iniciando sua longa volta à América do Sul. A previsão de chegada a Montevidéu é 14 de dezembro.

O Spiridon II, de bandeira do Togo e construído em 1973, já tinha mais de 80 deficiências documentadas em inspeções anteriores. Este histórico preocupante levanta questões sobre a segurança do transporte de animais vivos por via marítima.

Organizações de proteção animal enfatizam que esta tragédia não é um caso isolado, mas sim uma falha sistêmica que ocorre enquanto embarcações carregadas de animais cruzam os oceanos. Por isso, exigem o banimento total da exportação de animais vivos por via marítima.

Enquanto isso, no Mediterrâneo, o Spiridon II continua sua triste jornada, carregando não apenas animais, mas também questionamentos sobre os limites da exploração animal no comércio internacional.