Garimpo ilegal explode 729% em terra indígena mais desmatada do Brasil
Garimpo ilegal cresce 729% em terra indígena de MT

A Terra Indígena Sararé, localizada no município de Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, consolidou-se como a área indígena mais devastada do país na Amazônia Legal em 2024. Um relatório recente revela que o desmatamento associado à invasão de garimpeiros ilegais cresceu assustadores 729% entre 2021 e 2024, transformando a região em um novo epicentro da destruição.

Operação da Polícia Federal destrói infraestrutura criminosa

Na última semana, uma força-tarefa da Polícia Federal (PF) realizou uma grande operação dentro da TI Sararé. Os agentes destruíram túneis, minas, maquinários pesados e dezenas de acampamentos usados pelos invasores. A ação também localizou 14 bunkers abastecidos com alimentos, equipamentos e insumos para a mineração ilegal.

De acordo com o relatório "Cartografias da Violência na Amazônia 2025", divulgado em novembro, a atividade garimpeira na terra indígena explodiu, registrando um crescimento de 825% apenas entre 2022 e 2024. A investigação identificou o uso de escavadeiras hidráulicas, balsas e bombas de sucção dentro do território protegido.

Conexão com o crime organizado e impacto duplo

O estudo aponta que o garimpo na região deixou de ser uma atividade de subsistência e passou a ser financiado e protegido por grupos armados. Essas facções estão envolvidas com o tráfico de drogas e de armas na faixa de fronteira. O documento identificou cooperação entre garimpeiros e intermediários ligados ao Comando Vermelho (CV), além da atuação de células do Comando Classe A (CCA) e facções bolivianas.

Essas redes criminosas usam o garimpo para lavagem de dinheiro e para adquirir insumos químicos usados no refino da cocaína, criando uma perigosa interconexão entre as economias do ouro e do narcotráfico. "O impacto é duplo: ambiental, com poluição e desmatamento intensos, e criminal, com aumento da violência armada e ameaças a lideranças indígenas Nambikwára", destaca o relatório.

Devastação ambiental e prejuízos milionários

Além da destruição da floresta, queimadas criminosas arrasaram roçados e áreas sagradas para o povo Nambikwara. A contaminação por mercúrio e óleo degrada rios e igarapés, afetando diretamente a saúde da comunidade. A operação da PF causou um prejuízo estimado em R$ 237,5 milhões aos grupos criminosos, com a apreensão e destruição de um grande arsenal, incluindo:

  • 269 escavadeiras hidráulicas
  • 12 tratores
  • 10 caminhões e 16 caminhonetes
  • 40 veículos diversos
  • Uma balsa de apoio com motor estacionário

O levantamento também descobriu um esquema de fraude na posse de terras dentro da reserva, com a falsificação de 30 registros no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A TI Sararé é apontada pelo relatório como o provável novo polo do garimpo amazônico, após operações de desintrusão em outros estados, exigindo atenção contínua das autoridades.